Título: Al Qaeda usaria o país para treinar
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/01/2005, Internacional, p. A7

Relatório da CIA alerta que militantes da rede podem ''estagiar'' com rebeldes iraquianos para transferir experiência

WASHINGTON - Um relatório elaborado pelo Conselho de Inteligência Nacional, órgão subordinado à Agência Central de Inteligência (CIA) lança um alerta para o fato de que elementos da guerrilha iraquiano com mais experiência de campo estariam transmitindo suas experiências e métodos a terroristas vindos de outros países especificamente para fazer treinamento no Iraque. Se as informações forem confirmadas, o país árabe estaria tomando o lugar do Afeganistão com um agravante: o treinamento dos militantes ocorre em situações reais e dentro de ações de guerrilha cada vez mais organizadas e especializadas.

De acordo com o documento, os veteranos da jihad poderiam, mais tarde, assumir postos na cúpula da rede Al Qaeda - o próprio lider rebelde, o jordaniano Abu Musab al Zarqawi, já tem o beneplácito de Osama do chefe supremo da rede, Osama bin Laden. Os militares americanos oferecem uma recompensa de US$ 25 milhões por sua captura ou morte, mas até agora não conseguiram chegar perto de Zarqawi, responsável por atentados como o que destruiu a sede da ONU em Bagdá e pela degola de reféns estrangeiros.

O Relatório, intitulado ''Mapeando o Futuro Global'' adverte sobre essa nova categoria de terroristas, dentre os quais o jordaniano é o principal nome. E tenta estabelecer uma série de cenários para a segurança mundial nos próximos 15 anos.

Além de debater a situação gerada a partir da violência iraquiana, os especialistas americanos analisaram várias outras perspectivas. Uma delas examina como o crescimento econômico pode tornar as nações asiáticas mais poderosas, no chamado Eixo do Pacífico do qual a China é o maior representante. Outra observa as relações internacionais dentro de um cenário onde os EUA permanecerão como a única hiperpotência, porém cercada por diversas ameaças menores.

O ponto principal do estudo é mesmo a preocupação com o avanço da ameaça do terror. Segundo o texto, o Iraque e outros possíveis conflitos podem prover recrutamento, treinamento de campo, conhecimento de técnicas específicas de guerrilha já testadas e desenvolvidas, além de ''criar uma nova classe de militantes profissionais para os quais a violência política é um fim em si mesma''.

O presidente dos EUA, George Bush, descreveu a guerra no Iraque como parte de uma ofensiva contra o terror. Mas o relatório sugere que os extremistas é que ganharam um espaço de ação e uma experiência que poderá levá-los a se tornarem mais poderosos e eficientes do que aqueles que passaram pelas bases em território afegão.

- Os integrantes da Al Qaeda que se distingüiram naqueles períodos de especialização antes da derrota do regime dos talibãs estão gradualmente se dispersando e foram sendo substituídos pelos combatentes mais experimentados vindos do Iraque - destaca o relatório do conselho de Inteligência.

Os autores do estudo consultaram mais de mil especialistas em cinco continentes antes de estabelecer suas conclusões. Entre outras coisas, acreditam que o crescimento econômico registrado em todo o mundo não trará benefícios a muitos, com o fosso entre os que têm alguma coisa e os que não possuem nada se ampliando gradativamente.

- As vantagens que a globalização trouxe não são globais - conclui o vice-diretor do conselho, David Gordon. - Naqueles países onde os governos são fracos, onde as economias não conseguem avançar, o extremismo religioso é um forte elemento e essas coisas andam juntas, o potencial para se criar uma ''tempestade perfeita'' (alusão a uma situação incomum no clima) é enorme. E com isso, também crescem as chances do desenvolvimento de uma ação terrorista internacional de grande porte - completa Gordon.