Título: Despolitização da política deixa deputados apreensivos
Autor: Israel Tabak
Fonte: Jornal do Brasil, 24/01/2005, País, p. A3

Nas áreas densamente povoadas das metrópoles assim como nas zonas rurais rarefeitas, as histórias de práticas políticas decadentes, contadas pelos deputados, se sucedem. Chico Alencar, do PT do Rio, já perdeu a conta dos eleitores que o abordam em campanhas com propostas inusitadas.

- Muitos já me perguntaram o que iriam ganhar se votassem em mim, se eu só iria distribuir aqueles ''papeizinhos'' e se, pelo menos, eu não iria ''pagar uma cerveja''. A despolitização da política contaminou o eleitor - observa o deputado fluminense.

Por isso, Chico Alencar e outros parlamentares advertem que se torna urgente um debate público sobre a necessidade da reforma política, numa tentativa de reverter, com a participação da sociedade, o atual esquema viciado.

Ronaldo Caiado, do PFL de Goiás, conta que virou rotina, não só nas grandes cidades, como nos grotões, um gigantesco esquema de compra de votos:

- Hoje o cidadão se elege com uma enorme soma de votos, sem saber quem votou nele nem o que pensa o eleitor sobre a sua suposta plataforma. Na realidade, nem o próprio eleitor sabe por que votou no candidato. O que existe é um mercado de votos a preço fixo.

Outra prática relatada por Caiado, e que também foi detectada em larga escala na periferia do Rio, é a contratação de falsos cabos eleitorais, às vésperas da eleição:

- Sob a desculpa de que está contratando a pessoa para trabalhar na parte final da campanha, o candidato também está comprando o seu voto, a preço módico - relata Caiado.

O deputado Roberto Magalhães (PFL-PE) adiciona um número ao raciocínio de Caiado. Segundo ele, pesquisas informais mostram que o índice de sucesso do voto comprado é de 50%, ou seja, metade das pessoas que recebem dinheiro do candidato de fato vota nele, o que torna a empreitada atraente, sobretudo nas regiões mais pobres, em que a venda do voto sai mais barata.

Alexandre Cardoso, do PSB do Rio, tem mais dados sobre práticas políticas deformadas. Diz que a maioria dos vereadores eleitos da capital do estado conquistou o mandato graças a centros sociais por eles patrocinados, nos quais prestam a assistência que caberia ao Estado. Na Baixada Fluminense, segundo Cardoso, a prática ainda é mais abrangente. Ronaldo Caiado vai além: afirma que, em escala crescente, campanhas eleitorais são patrocinadas ou apoiadas pela marginalidade explícita, que, dispensando intermediários, já vem tomando assento em algumas casas legislativas.

Com a reforma política - argumentam seus defensores - todo esse amplo poder de manobra individual vai diminuir. Quem quiser, por exemplo, sair de um partido e, usando o caixa dois, ''comprar'' uma vaga na lista partidária de outra legenda terá grande chance de ser desmascarado e denunciado pelos que forem prejudicados na lista. (I.T.)