Título: 7 mil escravos libertos
Autor: Luiz Orlando Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 24/11/2004, País, p. A-5

O ministro do Trabalho e do Emprego, Ricardo Berzoini, informou que no governo Lula foram libertados 7.014 trabalhadores rurais em condições análogas à escravidão. Segundo o ministro, isto mostra um aumento significativo das ações de fiscalização, não só em quantidade, mas também em qualidade.

Apesar do anúncio, o presidente da Associação Nacional dos Magistrados Trabalhistas (Anamatra), Grijalbo Coutinho, cobrou uma ação ''mais vigorosa'' do Executivo para que o Congresso aprove logo o projeto de emenda constitucional que prevê a expropriação de propriedades rurais onde for constatado o emprego de mão de obra escrava.

As intervenções do ministro Berzoini e do presidente da Anamatra deram o tom do primeiro dia da 2ª Jornada de Debates sobre Trabalho Escravo, que se realiza no auditório do Superior Tribunal de Justiça, com a presença de cerca de 300 pessoas, entre altas autoridades do governo, juízes, procuradores e representantes de organismos internacionais, como a Organização Internacional do Trabalho.

- O que antes acontecia de forma explícita, apenas contra as pessoas da raça negra, seres humanos aprisionados na África e aqui vendidos aos brancos endinheirados, acontece hoje de forma dissimulada, driblando leis, e podendo alcançar a todos, sem distinção de cor, conquanto pobres, ignorantes e indefesos - disse Edson Vidigal, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Participaram também dos debates o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto; o secretário especial de Direitos Humanos, Nilmário Miranda; e o representante da OIT no Brasil, Armand Pereira.

Rossetto acha que a aprovação pelo Congresso da emenda constitucional expropriatória ''vai deixar no passado um problema que jamais deveria ter chegado ao século 21''. Nilmário ressaltou a necessidade de se manter atualizada a ''lista suja'' com os nomes dos fazendeiros que desrespeitam as relações de trabalho ou a legislação ambiental, e que não devem ter acesso a créditos das instituições públicas. Para o representante da OIT, a principal causa do trabalho escravo no país ainda é ''o histórico da impunidade''.