Título: Candangos e aspirinas
Autor: Carlos Helí de Almeida e Alexandre Werneck
Fonte: Jornal do Brasil, 22/11/2005, Caderno B, p. B1

A programação de filmes na competição da 38ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que começa hoje à noite, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Claudio Santoro, com a projeção hors concours do documentário Oscar Niemeyer, a vida é um sopro, de Fabiano Maciel, revela a marca do ineditismo na seleção das produções e também uma certa mágoa de parte da classe cinematográfica. Em função do número recorde de longas (40) e curtas-metragens (125) inscritos, os organizadores decidiu pelo rigor na aplicação do estatuto e optaram por dar preferência a títulos nunca exibidos no circuito comercial ou em festivais. Se, por um lado, tal decisão - que já vinha sendo cobrada há alguns anos da organização do evento - evidenciou uma certa efervescência na produção audiovisual brasileira (dos 40 longas inscritos, 20 eram inéditos), por outro irritou produtores e diretores cujos trabalhos não preencheram esse critério. Sua principal queixa é de que os filmes não inéditos foram devolvidos aos respectivos donos sem sequer terem sido vistos pela comissão de seleção.

- Os festivais brasileiros estavam ficando repetitivos, com os mesmos filmes sendo exibidos em todos eles e a tradição de Brasília tem sido a de servir de plataforma para novos talentos, para filmes não vistos. A medida foi adotada para fortalecer o Festival de Brasília - diz Fernando Adolfo, coordenador geral do festival e integrante de todas as comissões de seleção.

As comissões foram orientadas a encontrar os seis longas e os 12 curtas finalistas da relação de inscritos sabidamente inéditos. Os selecionadores só voltariam aos demais caso não conseguissem fechar este total. Assim, entre os longas, foram escolhidos A concepção, de José Eduardo Belmonte, do Distrito Federal; À margem do concreto, do niteroiense radicado em São Paulo Evaldo Mocarzel; Depois daquele baile, dirigido pelo ator carioca Roberto Bomtempo; Eu me lembro, produção baiana de Edgard Navarro; Incuráveis, de Gustavo Acioli, do Rio; e O veneno da madrugada, do veterano Ruy Guerra.

Foram deixados de lado longas já exibidos em festivais brasileiros, como Árido movie, de Lírio Ferreira, ou Um crime delicado, de Beto Brant, que seriam fortes candidatos ao troféu Candango este ano.

- O uso desse critério deveria ter sido deixado claro desde o início. Como havíamos participado do Festival do Rio, mas não ganhamos o prêmio, ligamos para eles e perguntamos se nossa candidatura ainda era válida e eles disseram que sim. Por conta disso, retiramos a candidatura ao festival de Goiânia e fomos prejudicados - diz Marcelo Gomes, diretor de Cinema, aspirinas e urubus, também exibido na competição carioca e agora em cartaz na cidade.