Valor Econômico, v. 20, n. 4962, 18/03/2020. Especial, p. A14

Trilhões de dólares para combater a crise



Os governos da Europa e dos EUA preparam uma reação de trilhões de dólares para limitar as consequências do coronavírus, estimular a atividade econômica e proteger a renda das famílias.

Líderes mundiais estão sendo forçados a rasgar o manual de economia tradicional em resposta à turbulência sem precedentes na economia mundial, que ameaça cortar pela metade o Produto Interno Bruto (PIB) global neste ano.

As medidas chamam atenção não só pelo montante, mas também pela velocidade que estão sendo adotadas. O maior exemplo disso é o Fed (o banco central americano), que no domingo anunciou a compra de US$ 700 bilhões em títulos do Tesouro dos EUA e derrubou os juros para uma banda de zero a 0,25% ao ano.

O receituário lembra o adotado na crise de 2008. Naquela ocasião, no entanto, o Fed, por exemplo, demorou 16 meses para colocar todas as medidas.

Autoridade de alto escalão dos EUA disse que o governo Donald Trump pediria ao Congresso autorização para um pacote de estímulo de até US$ 1,2 trilhão, incluindo US$ 250 bilhões em pagamentos diretos às famílias. Em 2009, houve pacote US$ 787 bilhões.

O Reino Unido anunciou 330 bilhões de libras (US$ 400 bilhões) em empréstimos para empresas e 20 bilhões de libras (US$ 24 bilhões) para apoio fiscal. “Não é o momento para ideologias ou ortodoxia, é o momento de ser ousado. Farei o que for preciso”, disse o ministro das Finanças, Rishi Sunak.

Pedro Sánchez, premiê da Espanha, também anunciou “a maior mobilização de recursos da história democrática da Espanha” para combater a crise. Esses recursos incluem empréstimos de €100 bilhões garantidos pelo Estado.

Enquanto isso, a França interveio com resgate de € 45 bilhões, prometendo medidas que incluem a nacionalização de empresas. “Não hesitarei em usar dos meios que tenho à disposição”, disse o ministro Bruno Le Maire (Finanças). O país anunciou €300 bilhões em empréstimos bancários a empresas, para que não entrem em colapso por falta de liquidez.

Na Alemanha, o governo prometeu dinheiro ilimitado para empresas, no que o ministro das Finanças, Olaf Scholz, chamou de “bazuca”. O banco estatal KfW pode emprestar hoje até  € 500 bilhões (US$ 550 bilhões), mas o ministro já disse que não há limite  para o socorro. Esses números superam com facilidade os de 2008 e, diferentemente daquela época, o governo não esperou a economia entrar em recessão para reagir.

Coletivamente, os países da zona do euro ofereceram €1 trilhão para mitigar efeitos da crise.

As restrições para limitar a propagação do coronavírus forçaram o fechamento de escolas, bares, restaurantes e fábricas em cinco continentes. Houve um colapso da demanda para as companhias aéreas e também no setor de turismo, enquanto grandes empresas começaram a suspender a produção.

A principal associação global de defesa dos interesses das empresas áreas pediu ajuda de US$ 200 bilhões para o setor suportar a tempestade e impedir falências em massa em dois meses. Volkswagen, Daimler, Ford e Nissan suspenderam as atividades em fábricas.

Os mercados responderam positivamente às intervenções, que incluíram a entrada do Fed no mercado de títulos de dívida corporativa de curto prazo. O índice de ações S&P 500, que na segunda-feira teve o pior pregão desde 1987, subiu cerca de 4% ontem.

No Brasil, o governo anunciou plano de R$ 147,3 bilhões para garantir o capital de giro de empresas, impedir demissões e atender à população mais vulnerável. Além disso, adiou por três meses o pagamento de contribuições como FGTS. (Com agências internacionais) / Financial Times