Valor Econômico, v. 20, n. 4962, 18/03/2020. Brasil, p. A2

IBGE adia Censo para 2021 e paralisa pesquisa de emprego

Bruno Villas Bôas


Com o avanço do novo coronavírus limitando o acesso aos domicílios do país, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) decidiu ontem adiar a realização do Censo Demográfico para 2021 e suspender a coleta presencial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, o que inviabiliza a pesquisa de mercado de trabalho do país.

O instituto informou que os recursos previstos para a realização do censo serão realocados para o Ministério da Saúde promover ações de enfrentamento ao novo coronavírus, com o compromisso da pasta de realocar no orçamento do próximo ano igual valor para assegurar a operação de contagem da população. O valor total do orçamento do censo era de R$ 2,3 bilhões.

A realização da contagem da população pelo censo exigiria que 180 mil recenseadores abordassem moradores de cerca de e 71 milhões de domicílios no país no período de 1º de agosto a 31 de outubro. Além dos riscos de os recenseadores serem contaminados, havia o fator de disseminação do vírus. O acesso aos domicílios também seria dificultado pelo temor das famílias.

Além disso, a realização do censo exigiria a contratação e treinamento 208 mil temporários (entre recenseadores e supervisores) nos próximos meses. A estimativa era de 2 milhões de candidatos realizando provas em salas de todo o país, o que contraria as orientações do Ministério da Saúde relacionadas ao quadro de emergência de saúde pública relativo à pandemia de covid-19.

O IBGE explicou ainda que o adiamento do cronograma do censo, de modo a aguardar o declínio na curva de contaminação, tornaria impossível de realizar, em tempo hábil, toda a cadeia de treinamentos para a operação censitária. A primeira etapa teria início em abril e, posteriormente, replicada em polos regionais e locais até o mês de julho.

Para o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, ex-professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, a decisão foi correta. “A situação vai estar muito difícil em maio e junho. Ficaria praticamente impossível preparar os recenseadores para a tarefa do censo. Com o coronavírus, a cobertura de domicílios iria lá para baixo e a qualidade das respostas ficaria ruim”, avalia.

Para o ex-presidente do IBGE, Roberto Olinto, qualquer outra decisão seria ruim para a realização do Censo, que exige treinamento de qualidade do pessoal contratado e disposição das famílias de receberem os recenseadores. “Outra decisão geraria um censo ruim”, disse Olinto, acrescentando que haverá mais tempo para melhorar os

Suspensa por tempo indeterminado, a coleta da Pnad Contínua exige que cerca de 2 mil entrevistadores visitem 70 mil domicílios por mês. O órgão conseguiu concluir a coleta até o trimestre móvel findo em fevereiro, a ser divulgada no fim deste mês. Não se sabe, porém, quando será a divulgação seguinte, exatamente num momento de provável deterioração do emprego.

O sindicato dos trabalhadores do IBGE já havia defendido a suspensão da coleta presencial da Pnad Contínua por causa do risco de contágios. O sindicato defende ainda a suspensão coleta presencial no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e pesquisas mensal de serviços, comércio e indústria.