Valor Econômico, n. 4960, 14/03/2020. Brasil, p. A2

Após Fed, Copom inicia semana sob pressão por corte mais forte de juros

Lucas Hirata
Victor Rezende


O Comitê de Política Monetária (Copom) inicia a semana sob grande pressão. O novo corte extraordinário de juros pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, que derrubou sua taxa a quase zero, deve reforçar a expectativa de que o Banco Central (BC) reduza a taxa Selic na quarta-feira.

A ação drástica do Fed, a segunda em apenas 12 dias, e a coordenação com outros cinco bancos centrais reforçam a percepção de que, até o momento, a reação do governo brasileiro aos efeitos econômicos do coronavírus tem sido tímida. Levantamento feito pelo Valor com 68 instituições financeiras e consultorias no fim da semana passada sobre a decisão do Copom apontou quase unanimidade - 62 opiniões - em relação à necessidade de corte da taxa de juros.

Dos 68, 34 esperavam redução de 0,25 ponto percentual, enquanto 28, corte de 0,5 ponto. Os seis restantes aguardavam manutenção da taxa Selic em 4,25% ao ano. Essas expectativas devem mudar.

Até o fim da semana passada, parte significativa do mercado vinha demonstrando preocupação com um corte mais profundo do juro por  conta da depreciação do câmbio e os riscos fiscais, que voltaram de vez ao foco com a ação do Congresso de derrubar o veto presidencial que impedia a ampliação do Benefício de Prestação Continuada (BPC), medida que custaria R$ 20 bilhões anuais ao Tesouro. Na sexta à noite, o TCU suspendeu a mudança.

Em outro grupo, estavam analistas que veem crescimento do PIB abaixo do esperado e os efeitos desinflacionários gerados pelo vírus como argumentos para um corte mais acentuado dos juros.

“O Copom tem que cortar juros em 1 ponto numa reunião extraordinária”, diz o economista-chefe da Mauá, Alexandre Ázara. “É preciso agir rapidamente. Os principais bancos centrais do mundo estão agindo. O mundo mudou. A gente não pode ficar parado.”

Ázara acredita que o possível impacto no câmbio não deva ser entrave para o afrouxamento monetário. Diz que deveria usar reservas, em paralelo ao corte de juros, para enfrentar a volatilidade do mercado de moedas. “Acumulamos esse seguro por todos esses anos. Agora, aconteceu o sinistro e a gente tem de usar o sinistro. Olha o que está acontecendo no mundo”, diz o profissional.