Valor Econômico, n. 4955, 07/03/2020. Brasil, p. A6

BNDES precisa de PDV para cortar até 1,5 mil, defende conselheiro

Fabio Graner 


O conselheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Carlos Thadeu de Freitas disse ao Valor que o banco precisa realizar logo um Programa de Demissão Voluntária (PDV) e cortar entre 1 mil e 1,5 mil funcionários, além de reduzir o número de diretores de 10 para 6.

Hoje, a instituição tem cerca de 2,6 mil servidores. “O BNDES se tornou um banco pequeno com um quadro de banco grande. Seis diretores estaria muito bom. E precisa fazer um PDV, para trabalhar com mil a 1,5 mil funcionários”, disse Freitas. A proposta gerou forte reação de funcionários e levou o conselho da instituição a emitir nota interna negando estar discutindo a ideia.

O conselheiro também ressaltou que, na atual situação, o banco precisa acelerar as devoluções de recursos ao Tesouro Nacional. Ele defende devolver R$ 70 bilhões aos cofres federais e ainda projeta repasses de mais R$ 10 bilhões em dividendos ao longo deste ano.

Segundo o economista, que já foi diretor do BNDES, a redução do banco que decorre do fato de ele ter se tornado menos competitivo e não ter mais tanta demanda. “O BNDES não precisa ficar financiando capital de giro para bancos comerciais. Não há necessidade de os bancos comerciais ganharem dinheiro em cima do FAT por meio das operações indiretas do BNDES”, disse.

Para ele, a instituição precisa captar recursos de longo prazo no exterior, operação sem impostos usual em outros bancos. E pode atuar como formador de mercado para alavancar o desenvolvimento do segmento de debêntures privadas.

Para o presidente da Associação dos Funcionários do BNDES (AFBNDES), Arthur Koblitz, um corte dessa magnitude seria “dramático”. Ele diz que desde 2015 a política econômica tem reduzido o banco e criado uma situação de “fato consumado”, que apontaria para redução de seu quadro.

Na visão de Koblitz, essa ideia se insere em um contexto de políticas de redução de Estado que estão dando errado. “Isso não está funcionando. Não faz sentido ficar destruindo a instituição. O BNDES é o principal instrumento para elevar o investimento”, disse, ressaltando que as políticas atuais há anos prometem crescimento e não entregam, como mostraram dados do PIB de 2019.

O representante também ataca a ideia de fazer com que o banco busque mais recursos no exterior. “É um absurdo macroeconômico”, disse, ressaltando que é uma vantagem para o país a instituição ter fontes internas de recursos. Segundo Koblitz, não há sobra de pessoas no banco, que estão com muito trabalho em suas áreas. Para ele, diminuir o BNDES é ruim para o país e cortar o quadro de pessoal ainda imporia um limite muito estreito para futuras atuações anticíclicas do Estado.

O ex-diretor de Recursos Humanos e de Micro, Pequenas e Médias (MPME) empresas do BNDES, Ricardo Ramos, também apontou dificuldades em cortar pessoal. Para ele, as decisões sobre o quadro de funcionários têm que estar relacionadas ao planejamento estratégico da instituição, que envolve três pontos: serviços públicos (estruturação de projetos), infraestrutura e MPMEs.

“A quantidade de pessoas é consequência da estratégia”, salientou, lembrando que uma redução de tal porte levaria o banco para um tamanho até menor de quando ele entrou na instituição, há 27 anos, quando o banco era menos complexo. “Para fazer nessa magnitude teria que reestruturar a estratégia do banco”, acrescentou. Ele afirmou ainda que a tendência é o banco diminuir, mas apontou que atividades como estruturação de projetos são intensivas em mão de obra.