O Globo, n. 32596, 04/11/2022. Política, p. 8

Apoi­a­dor de Lula, Renan cri­tica ‘PEC da Tran­si­ção’

Alice Cravo


Apoiador de primeira hora do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e adversário do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o senador Renan Calheiros (MDB-AL) disse que a “PEC daTransição” é um erro e que o ideal seria os representantes do novo governo procurarem o Tribunal de Contas da União (TCU), em vez do Centrão, para viabilizar o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600 no ano que vem.

O senador comparou a Proposta de Emenda à Constituição articulada pela equipe de Lula para permitir que as despesas sejam feitas fora do teto de gastos com expedientes semelhantes utilizados pelo governo Bolsonaro, como a PEC Eleitoral.

— É um erro político recorrer ao Centrão na semana seguinte à eleição. Não podemos repetir velhos erros. Só desestabiliza, preocupa o mercado sem necessidade — disse ele ao GLOBO.

Para aprovar uma PEC são necessários três quintos dos votos, tanto na Câmara quanto no Senado, em dois turnos de votação em cada Casa. Para isso, o governo Lula fatalmente precisará do apoio do Centrão, cujo núcleo duro é formado por PP, PL e Republicanos. Lira, adversário de Renan, é um dos expoentes desse grupo.

A equipe que está debatendo o Orçamento de 2023 para o presidente eleito estima que será preciso obter espaço fiscal de cerca de R$ 200 bilhões no próximo ano. O valor seria necessário para manter o pagamento do benefício de R$ 600 do Auxílio Brasil, mas também para garantir aumento real do salário mínimo.

Apesar das críticas, Renan afirmou que irá atuar para garantir a governabilidade. Para isso, o senador se encontrou na quarta-feira com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos coordenadores da campanha de Lula, e irá se encontrar com a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR).

— O que nós precisamos é construir uma frente partidária sólida, com 51 senadores, na largada, 312 deputados, para eleger o presidente da Câmara, do Senado e para aprovar as reformas necessárias. Dando conteúdo político à essa frente. — afirmou Renan.

O emedebista tem expectativa de voltar a presidir o Senado. O atual ocupante do posto, senador Rodrigo Pacheco (PSDMG), porém, já articula sua reeleição em fevereiro. Pacheco está cada vez mais próximo dos petistas.

A nova legislatura do Senado será marcada pelo aumento do número de parlamentares conservadores na Casa. O PL, legenda ao qual Bolsonaro é filiado, fez a maior bancada, com 14 senadores. Aliados próximos do titular do Palácio do Planalto, como a recém eleita Damares Alves (Republicanos-DF) já deixaram claro que pretendem disputar a presidência do Senado.

Embarque imediato

Renan embarcou na candidatura de Lula ao Planalto apesar de seu partido, o MDB, ter lançado a senadora Simone Tebet (MS) para o posto. Após ficar em terceiro lugar na corrida presidencial, ela aderiu à campanha do petista no segundo turno e é dada como nome certo para o novo Ministério.