Valor Econômico, n. 4954, 06/03/2020. Brasil, p. A5

Câmbio é flutuante e pode ir a R$ 5 se eu fizer besteira, diz Guedes

Anaïs Fernandes
André Guilherme Vieira 


Em mais um dia tenso no mercado, em que o dólar fechou a R$ 4,65, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o câmbio é flutuante, mas agora oscila em patamar mais alto porque o ‘mix’ de políticas mudou. Segundo ele, o nível da moeda preocupa quando a escalada é muito rápida, mas o Banco Central está provendo liquidez. “Está tudo bem, não tem nada de errado”, afirmou ele, dizendo não acreditar que esteja em curso uma fuga de capitais do Brasil.

“Os preços estão subindo porque a liquidez é relativamente estreita, tem gente querendo remeter, é normal, tem gente remetendo”, disse. “Também não tem problema, se quiser remeter, remete. O BC está vendendo [dólar], está provendo alguma liquidez e está tudo bem, não tem nada errado. ”

Questionado se o dólar poderia chegar a R$ 5, respondeu: “Ué, se o presidente [da República] pedir para sair, se o presidente do Congresso pedir para sair, se todo o mundo pedir para sair...”, afirmou. “Eu estou dizendo que é um câmbio que flutua, se eu fizer muita besteira, ele pode ir para esse nível [R$ 5]. Se eu fizer muita coisa certa, ele pode descer”, acrescentou.

Segundo Guedes, as oscilações também são normais porque a agenda de reformas do governo não está inteiramente em vigor. “É um câmbio flutuante. O BC vende um pouco para não deixar rápido demais, mas é natural, nós não implementamos ainda as reformas, há muita dúvida”, afirmou. “Vocês mesmos [em referência à imprensa] estavam noticiando aí, que está caos, o presidente não se entende com o Congresso, não vai ter as reformas. Toda hora vai ter uma bomba soltada, o sujeito tomado em dólar está nervoso, começa a procurar hedge [proteção], isso é absolutamente normal. ”

“A flutuação agora é em um nível mais alto. [Vai ser] R$ 3,60, R$ 4,60? Não sabemos, é o câmbio flutuante, só que em patamar mais alto, simplesmente isso. ”

Segundo Guedes, a esticada da moeda americana “era perfeitamente previsível”. Ele atribuiu a depreciação cambial a fatores externos e domésticos. “Pô, mas está indo a R$ 4,30, R$ 4,40? Bom, têm o coronavírus, a desaceleração da economia mundial, tem a incerteza. Havia incerteza, o que vocês estavam dizendo há um, dois dias atrás? Que está havendo choque entre Congresso e o presidente, não está havendo coordenação política, quer dizer, se está esse ‘frisson’ todo, o dólar sobe um pouco. ”

O ministro da Economia fez questão de ressaltar que “a governabilidade está acontecendo” e que disputas entre Executivo e Legislativo em torno de Orçamento fazem parte do processo. “Estamos atravessando um período de aperfeiçoamento institucional”, disse ele.

O ministro afirmou ainda que “qualquer ministro da Fazenda responsável entende que mudou o modelo”, e brincou que esse modelo é agora “quatro por quatro, com tração nas quatro rodas”. Segundo ele, “o juro que era 15% caiu para 4%, e o câmbio, que era R$ 1,80 subiu para R$ 4, então vai ter consumo, investimento, o juro é mais baixo, ao mesmo tempo vai ter mais exportação”. Guedes observou ainda que a inflação também caiu.

“As reformas ainda não estão implementadas”, reforçou ele, citando a administrativa e a tributária como exemplos. Segundo ele, quanto mais rápido elas entrarem em vigor, mais rápido o Brasil recupera a confiança aos olhos da economia mundial, “mais rápido são retomados esses investimentos, o dólar acalma”, concluiu.

Guedes acompanhou o presidente Jair Bolsonaro no lançamento do Conselho Superior Diálogo pelo Brasil, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).