O Globo, n. 32645, 23/12/2022. Saúde, p. 27

"Minha missão é entregar o SUS mais forte"

Entrevista: Nísia Trindade


Um dos 16 nomes anunciados ontem pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para o primeiro escalão do próximo governo, Nísia Trindade será a primeira mulher a comandar o Ministério da Saúde. Ao GLOBO, ela revela que uma de suas prioridades será a retomada da articulação da pasta com estados e municípios. As relações de gestões locais com o governo federal foram abaladas na pandemia de Covid-19 em virtude de condutas do presidente Jair Bolsonaro (PL) no combate ao coronavírus.

Atual presidente da Fiocruz, Nísia diz que a mudança de postura será fundamental para ampliar a vacinação e reduzir as filas de espera por procedimentos médicos e cirurgias nos hospitais, um problema histórico do sistema de saúde do país. Em tom realista, ela explica ainda por que considera fundamental atuar de maneira articulada com as demais áreas do governo:

— O ministério, sozinho, não resolve as principais questões que afetam a saúde dos brasileiros.

Como O GLOBO revelou ontem, Nísia já começou a trabalhar na montagem da equipe da pasta que vai comandar. Ele pretender dar protagonismo à "saúde digital" e estuda criar uma secretaria votada à área, que seria comandada por Ana Estela Haddad, mulher do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Confira os principais pontos da entrevista:

Qual será a sua prioridade à frente do ministério?

Uma delas será a recuperação da capacidade de coordenação do Ministério da Saúde junto a todos os estados e municípios. Com isso, poderemos avançar na vacinação, na questão das filas, que o presidente tanto mencionou no seu discurso hoje (ontem), para procedimentos e cirurgias eletivas. Todas essas questões requerem uma coordenação do ministério.

"Uma das nossas prioridades será a recuperação da capacidade de coordenação do Ministério da Saúde junto a todos os estados e municípios"

A senhora acompanhou a transição como integrante da equipe de saúde. O que mais a preocupou entre todos os aspectos que viu até agora?

O ponto que foi mais enfatizado é a necessidade de nós termos as informações necessárias pra planejar as ações de saúde. Há falhas no sistema de informação, falhas no acesso a essas informações. Mas eu diria que o principal hoje é recuperar a confiança da nossa sociedade numa boa gestão.

Há a intenção de anunciar a criação de uma secretaria de saúde digital? Ana Estela Haddad estava no seu radar.

Ainda vou fazer o anúncio das secretarias e do secretariado, mas o que a equipe de transição colocou muito claramente foi a necessidade de termos a saúde digital como um dos principais eixos. O central é a integralidade com equidade. Falamos de saúde para todos, que todos possam ter um acesso de qualidade.

O que representa ser a primeira mulher a comandar o Ministério da Saúde?

É uma emoção muito grande, mas também uma grande responsabilidade. Eu já venho de uma responsabilidade imensa, há seis anos na presidência da maior instituição de ciência e tecnologia da América Latina. A saúde precisa estar em todas políticas, então precisamos trabalhar juntos, com o Ministério da Saúde reassumindo o seu papel de coordenação efetiva.

Qual resultado principal a senhora pretende entregar com sua gestão?

Minha missão é entregar um SUS fortalecido, com integralidade. O que é isso? Significa que todas as linhas de cuidado sejam exercidas. Então, é isso que eu espero, um SUS fortalecido em todas as áreas: na ciência e tecnologia, na vigilância, na atenção, porque isso faz parte de um todo. Ao lado de toda a equipe do presidente Lula, do vice-presidente (Geraldo) Alckmin, eu pretendo realizar isso. O ministério, sozinho, não resolve as principais questões que afetam a saúde dos brasileiros.

Quando você pretende anunciar a equipe que vai compor o ministério?

Não está toda formada, então eu vou anunciar de uma única vez, no dia 2 de janeiro.