Valor Econômico, v. 20, n. 4905, 20/12/2019. Brasil, p. A4

 

Emprego formal acelera e país gera 99,2 mil vagas
 Thais Carrança
 Mariana Ribeiro
 Lu Aiko Otta

 

O mercado de trabalho formal surpreendeu positivamente em novembro, com abertura de 99,2 mil vagas. O resultado é quase o dobro do esperado pelo mercado (50 mil) e o melhor para meses de novembro desde 2010, levando analistas a revisar para cima suas projeções para o saldo de vagas formais neste e no próximo ano.

O setor de construção civil é um dos principais destaques positivos na geração de empregos com carteira assinada. Nos 12 meses até novembro, respondeu por 10,5% das vagas criadas. É uma parcela bem superior ao pouco mais de 1% dos 12 meses encerrados em novembro de 2018.

Se o ritmo de abertura de vagas do mês com ajuste sazonal fosse mantido ao longo de todo 2020, seriam criados 1 milhão de empregos no próximo ano, estimam ainda os analistas. Eles ponderam, porém, que o dado positivo pode ter sido influenciado pelo efeito pontual da Black Friday.

No mês passado, apenas três dos oito setores de atividade econômica apresentaram crescimento no nível de emprego. Só o comércio, no entanto, gerou 106,8 mil postos, impulsionando o resultado. Além disso, tiveram saldo positivo os serviços, com 44,3 mil vagas, e os serviços de utilidade pública, com 419.

No acumulado do ano, o saldo líquido de contratações foi de 948,3 mil, o melhor para o período desde 2013, na série com ajuste para inclusão de dados enviados com atraso pelas empresas. Já em 12 meses até novembro, o país teve ganho de 605,9 mil vagas.

“Um dos fatores que podem ter contribuído para o aumento da geração de empregos no comércio é a Black Friday, que ganhou força neste ano”, avalia Alexandre Lohmann, da GO Associados. Segundo ele, o Índice Cielo do Varejo Ampliado mostrou que as vendas do varejo cresceram 5,2% em novembro, na base anual, e 18,1% somente na semana da Black Friday.

Apesar desse efeito pontual, Lohmann deve revisar suas projeções para o saldo de vagas formais neste e no próximo ano. Para 2019, a estimativa deve passar de 500 mil para algo como 600 mil. Para 2020, a revisão ainda está em avaliação, mas a estimativa de 750 mil vagas tem viés de alta. A LCA Consultores também planejar recalibrar suas projeções, até então de criação de 500 mil vagas em 2019 e 750 mil em 2020. “Salvo uma surpresa muito grande no Caged de dezembro, o dado de novembro levaria nossa projeção para 550 mil neste ano”, diz o economista Cosmo Donato.

Com ajuste sazonal pela LCA, o dado de novembro indica a criação de 82 mil postos de trabalho formal, ante 61 mil em outubro. “Se esse ritmo fosse mantido durante todo o próximo ano, estaríamos falando de uma geração de vagas próxima de 1 milhão em 2020. Seria o primeiro ano com uma geração bastante expressiva de postos de trabalho.”

Conforme o analista, o resultado indica que os frutos da melhora de confiança começam a ser colhidos. Isso fica evidente na geração de vagas na construção civil, que soma 55,9 mil postos abertos em 12 meses até novembro. Para comparação, foram 4,4 mil postos de trabalho acumulados nos 12 meses até novembro de 2018. Nesse intervalo, comércio e serviços responderam juntos por 98,5% das vagas geradas. Já nos 12 meses até novembro deste ano essa fatia caiu a 88%, com a construção ganhando espaço.

O resultado de novembro foi comemorado pelo secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, em sua conta no Twitter. Ele afirmou que o país deve terminar 2019 com um saldo de empregos formais melhor que o verificado no ano passado. Em 2018, foram criadas 529 mil vagas, após três anos de cortes.  “Em dezembro, pela sazonalidade, as demissões costumam superar as contratações. Mesmo assim, estimamos que o resultado de 2019 será pelo menos 20% maior que o do ano passado”, afirmou. Marinho disse ainda que os números devem ser melhores em 2020, “com a retomada da atividade econômica e a continuidade da agenda de reformas”.

Ao Valor o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, disse que o resultado reforça a convicção do governo de que 2020 será um ano de crescimento forte, na casa de 2,5% a 3%. “Vamos ter o melhor Natal dos últimos anos e 2020 promete ser o ano da virada, da recuperação econômica”, afirmou.

Mas nem tudo ainda é motivo de comemoração. A indústria de transformação continua sendo o destaque negativo, com abertura de apenas 1,8 mil vagas em 12 meses até novembro. É um número consideravelmente menor que os 5,2 mil alcançados nos 12 meses encerrados em novembro de 2018. Lohmann acredita, porém, que em 2020 o setor pode acompanhar os demais na tendência de recuperação, devido à dissipação de efeitos negativos como a guerra comercial, a crise argentina e o desastre de Brumadinho, em Minas Gerais.

Outro ponto menos animador diz respeito à qualidade dos empregos que estão sendo gerados. Das 532,5 mil vagas líquidas criadas em 12 meses até novembro (sem ajuste), 25,7% são em contratos de menos de 20 horas semanais e a totalidade tem remuneração até 1,5 salário mínimo.

Por fim, os salários de admissão seguem pressionados pela alta taxa de participação no mercado de trabalho, destaca a Guide Investimentos, em relatório. Pelo mesmo motivo, a melhora na oferta de empregos deve ter dificuldade em se refletir em uma queda acelerada na taxa de desemprego. O salário médio de admissão foi de R$ 1.592 no país em novembro, queda real de 0,74% em relação a outubro.