Valor Econômico, v. 20, n. 4904, 19/12/2019. Política, p. A15

 

Bolsonaro sinaliza veto a fundo eleitoral de R$ 2 bi para 2020
 Fabio Murakawa
 Matheus Schuch 


 

O presidente Jair Bolsonaro criticou o que considera excesso de gastos dos partidos durante as campanhas eleitorais e provocou populares a dizerem se ele deve sancionar ou vetar o fundo eleitoral. Na terça-feira, o Congresso aprovou o fundo eleitoral para as eleições municipais de 2020, fixado em R$ 2 bilhões.

“Vocês acham que tem que vetar ou sancionar os R$ 2 bilhões de fundo partidário [sic] ?" , perguntou, referindo-se ao fundo eleitoral aprovado na véspera pela Câmara dos Deputados. “Veta, veta”, responderam os apoiadores do presidente.

Na conversa com populares, o presidente destacou os valores que seriam repassados aos maiores partidos da Câmara com financiamento público. “O PT vai pegar R$ 200 milhões, o pessoal daquele PSL lá, que mudou de lado, vai pegar mais R$ 200 milhões”, disse, referindo-se ao seu ex-partido.

O Aliança Pelo Brasil, partido que o presidente Jair Bolsonaro tenta estruturar, iniciou ontem uma campanha para que eleitores em todo o Brasil se desfiliem de outras siglas a fim de poder firmar as petições para a criação da nova legenda. A campanha ocorre nas redes sociais do Aliança e na internet. O objetivo é instruir os eleitores sobre como se desfiliar, além de aquecer a militância.

Em uma etapa posterior, o Aliança pretende fazer um mutirão de cartórios para recolher as 492 mil assinaturas necessárias para formalizar a criação do partido.

Bolsonaro e seu entorno lutam para que o processo seja concluído até 31 de março, o que possibilitaria à legenda disputar as eleições municipais de 2020. Para tanto, seria necessário o reconhecimento de todas firmas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“Chegou o Dia D, o Dia de se desfiliar do seu antigo partido. Liberte-se hoje mesmo e faça parte dessa história! Para facilitar, colocamos no nosso site os modelos de documentos para preenchimento e impressão”, diz um texto publicado na conta do Facebook do Aliança. “Depois, basta entregar ao juiz eleitoral e também no seu antigo partido [guarde o  recibo desse ato]. Esse passo é fundamental para você poder apoiar o Aliança pelo Brasil. Mas atenção, só precisa de desfiliar quem está filiado a um partido. Venha ser um Aliado!”

Auxiliares do presidente Bolsonaro acreditam que o mutirão de cartórios - com postos móveis nas ruas das grandes cidades - pode ajudar a evitar o “desperdício de assinaturas” no ato de criação da legenda.

O temor tem base na experiência do PSD, criado em 2011 sob a liderança de Gilberto Kassab. À época, grande parte das assinaturas foi perdida. Com a presença de cartórios e reconhecimento imediato das firmas, esse desperdício tende a ser menor.

Ontem, falando a apoiadores na porta do Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro colocou em dúvida a possibilidade de coleta de assinaturas eletrônicas, ainda pendente de regulamentação pelo TSE.

“Pelo jeito, vamos ter que colher assinaturas no braço”, afirmou o presidente.

Mas seus advogados Karina Kufa e Admar Gonzaga afirmam que ainda não desistiram do método, apesar das dificuldades.

O objetivo agora é partir logo para a coleta de firmas manuais. Caso a regulamentação do método de coleta eletrônico ocorra a tempo, o partido mudará a estratégia.