Valor Econômico, v. 20, n. 4904, 19/12/2019. Brasil, p. A4
 

Sindicatos perdem 1,5 milhão de filiados em 2018, mostra IBGE
Bruno Villas Bôas 


 

Sem a recuperação do emprego formal, a taxa de sindicalização do mercado de trabalho seguiu em retração e atingiu seu menor nível em sete anos. Em 2018, apenas 12,5% das pessoas ocupadas eram sindicalizadas, o menor nível desde 2012, ano de início da série histórica, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Isso significa que o país tinha 11,518 milhões de pessoas sindicalizadas em 2018, 11,9% abaixo do ano anterior, ou 1,5 milhão de filiados a menos. Desde 2012, os sindicatos perderam 2,88 milhões de trabalhadores em seus registros. Em 2012, a taxa era de 16,1% da população ocupada.

Adriana Beringuy, técnica do IBGE, lembrou que o número de pessoas ocupadas no país chegou até a crescer no ano passado, mas essa alta ficou concentrada em postos informais de trabalho, em que há baixa presença sindical para intermediar relações com o patrão. Os sindicatos também têm sido afetados pelo fim da obrigatoriedade da contribuição sindical, aprovada na reforma trabalhista.

“A queda [da sindicalização] tem a ver com a expansão do trabalhador por conta própria e o empregado sem carteira, que em geral não tem filiação a sindicatos. E como eles vêm crescendo sua participação, o número de sindicalizados vem caindo", disse Adriana ontem, durante entrevista coletiva, no Rio.

Das principais atividades econômicas, um dos destaques foi a redução da sindicalização na indústria. A taxa foi de 15,2% no ano passado, bem inferior ao visto em 2012 (21,1%). Em 2017, a taxa estava em 17,1%. Também houve forte queda na sindicalização do transporte, de 17,5% para 13,5%, segundo o IBGE.

“No caso do transporte, isso tem a ver com o aumento do número de pessoas que trabalham na atividade dirigindo para aplicativos, como Uber. Esses trabalhadores em geral não são sindicalizados”, disse Adriana.

Dados da pesquisa mostram que a maior taxa de sindicalização em 2018 estava no setor público (25,7%), seguido por trabalhadores do setor privado com carteira assinada (16%). Os trabalhadores sem carteira assinada no setor privado apresentaram uma das menores taxas de sindicalização, com 4,5%.

E quanto maior o nível de instrução, maior a taxa de sindicalização. Pessoas mais instruídas têm, em geral, maior probabilidade de conseguir emprego formal, o que explica o indicador. Dos ocupados com superior completo, 20,3% estavam sindicalizados. Com médio incompleto, eram apenas 8,1%.

Regionalmente, o Nordeste tinha o maior percentual de sindicalizados: 14,1%. Era seguido por Sul (13,9%), Sudeste (12%), Centro-Oeste (10,3%) e Norte (10,1%). “A [taxa na] região Nordeste é maior por causa do trabalho agrícola, que é maior na região e mais sindicalizado”, disse a técnica do IBGE.

Parte dos sindicatos diferencia trabalhadores “associados” (que se torna uma espécie de sócio do sindicato, que paga mensalidades com benefícios específicos) do “filiado” (trabalhadores de categorias profissionais filiados a sindicatos). O IBGE não faz essa distinção como os sindicatos.