Valor Econômico, v. 20, n. 4902, 17/12/2019. Finanças, p. C2
 

Risco Brasil recua para menos de 100 pontos
 Marcelo Osakabe
 Lucas Hirata
 Victor Rezende
 Marcelle Gutierrez
  Ana Carolina Neira 

 

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A confiança dos investidores globais numa estabilização da economia mundial tem sustentado ganhos quase generalizados nos ativos de risco. O movimento é intensificado no Brasil pela melhora de perspectivas para a economia local, num movimento capturado por um dos principais termômetros de risco do país. O custo do Credit Default Swap (CDS) de cinco anos - espécie de seguro contra calotes - desceu abaixo de 100 pontos-base e tocou sua mínima em nove anos.

Ontem o CDS do Brasil tocou a marca de 98 pontos-base, o menor nível desde novembro de 2010. O bom desempenho por aqui segue a tendência vista em outros emergentes, como Rússia, Colômbia e México. O ambiente de otimismo no exterior também beneficiou o câmbio brasileiro e levou o dólar comercial a recuar 1,13% ontem, para R$ 4,0613. Com isso, a cotação acumula queda de 4,21% em dezembro, contrabalançando parcialmente o salto de 5,73% do mês anterior.

“É um ambiente mais propício ao risco como um todo. Depois do avanço no acordo comercial e as eleições na Inglaterra, houve uma redução de incertezas e o risco externo melhorou bem, mesmo que algumas dúvidas permaneçam”, diz a economista-chefe da ARX, Solange Srour. Para ela, o mercado brasileiro se beneficia também “por uma melhora na visão fiscal: a dívida/PIB está numa trajetória melhor que o esperado anteriormente. Fora isso, tivemos sinais mais concretos de recuperação da atividade”.

O cenário externo mais favorável sustentou o Ibovespa no azul durante a maior parte do dia, batendo, logo na primeira hora, o recorde intradiário de 113.197 pontos, na máxima do dia. Próximo do fechamento, contudo, o índice inverteu e fechou em queda de 0,59%, aos 111.896 pontos, após ajustes. O volume financeiro somou R$ 16,5 bilhões.

A virada para o negativo do Ibovespa ocorreu em conjunto com uma piora no desempenho das ações preferenciais da Petrobras, que fecharam em queda de 1,90% com firme volume financeiro. Segundo um profissional do mercado, a virada foi após o vencimento de opções sobre ações, que movimentou R$ 12,13 bilhões, com os contratos de compra de Petrobras PN como os mais negociados.

Um dos pontos que ajudou a dar ânimo aos pregões foram dados melhores que o esperado na China. A produção industrial do país avançou 6,2% ao ano em novembro, contra 5% de expectativa do mercado. As vendas no varejo também surpreenderam para cima.

“Tivemos dados econômicos melhores que o esperado da China, além do acordo comercial na sexta. Num dia de agenda esvaziada internamente, isso ajuda a movimentar o dia”, diz o estrategista-chefe do banco Mizuho no Brasil, Luciano Rostagno. “Os dados da China sugerem que os estímulos injetados pelo governo chinês começam a surtir efeito.”

Além dos indicadores, os investidores continuaram a avaliar a oficialização da primeira fase do acordo comercial entre Estados Unidos e China. Embora tenha ficado aquém do esperado, o pacto deve ajudar a impedir a escalada do conflito econômico, notam os analistas do Julius Baer. “O acordo reduz o risco negativo para 2020, mas dificilmente será o suficiente para entregar um impulso significativo à economia.”

A sucessão de boas notícias para o Brasil nas últimas semanas melhora a imagem do país perante o investidor. Ainda assim, a maior parte da queda tanto do dólar quanto do CDS pode ser explicada por movimentos globais, diz o economista-chefe para América Latina do banco ING, Gustavo Rangel. Para o profissional, o fato de os ativos locais não terem descolado da dinâmica mais ampla dos emergentes mostra que os ganhos da retomada mais forte do crescimento ainda não chegaram.

“Esse movimento deve ficar mais claro a partir do segundo trimestre de 2020”, diz o profissional. Rangel avalia que a situação econômica na Argentina, que deve anunciar um calote nos próximos meses, é um dos fatores adicionais que servem para adiar esse momento.

 

Durante o dia, ganhou repercussão um comentário do presidente, Jair Bolsonaro, de que “todas as alternativas estão na mesa”, quando questionado sobre o risco da volta de um imposto sobre movimentação financeira. A fala contribuiu para a queda do Ibovespa e teve repercussão no mercado de juros. A taxa do DI para janeiro de 2025 subiu de 6,39% para 6,48%. Durante boa parte do dia, prevaleceu a leitura de que o ambiente de negócios é positivo, muito em função da melhora recente no exterior.