Valor Econômico, n. 4922, 18/01/2020. Política, p. A9

PSB mira em alianças com o centro
Cristiane Agostine


De negociações com o apresentador José Luiz Datena (DEM) a articulações com o Psol, o PSB busca diversificar os aliados nos Estados para se descolar do PT e se fortalecer rumo às eleições de 2022. O partido trabalha para ampliar as alianças com o centro na disputa municipal deste ano e deve lançar candidaturas nas capitais e cidades com mais de 200 mil eleitores.

O PSB definiu o PDT, Rede e PV como os principais parceiros para as eleições de outubro. O presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, no entanto, avalia que é preciso se aliar também a legendas de centro para se contrapor ao avanço da direita. “O momento exige a ampliação de alianças rumo ao centro. Essa amplitude é necessária”, reforça Siqueira.

O diálogo do PSB com o PT para as eleições de outubro pouco avançou. Desde que saiu da prisão, em novembro de 2019, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não conversou com Carlos Siqueira e s negociações têm sido com a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.

O PSB faz críticas ao PT até mesmo em documento do partido, lançado em novembro e que servirá de base para uma autorreforma. A legenda faz ponderações sobre as políticas sociais implementadas no governo federal e culpa o aliado por problemas enfrentados pela esquerda, como a perda da “hegemonia no campo da probidade, da lisura e do respeito aos princípios da administração pública”.

A cúpula do PSB reforça o clima de desconforto em relação a Lula e ao PT. Para o dirigente e ex-deputado Beto Albuquerque, um dos vice-presidentes do partido, é preciso buscar alternativas a alianças com petistas. “Lula saiu momentaneamente da cadeia com uma arrogância estratosférica, esculhambando aliados”, reclama Albuquerque. “O epicentro das nossas discussões não é o PT. Tem que buscar o Rede, PV, criar um campo político alternativo à polarização estéril entre PT e Bolsonaro”, diz. “Tudo o que Bolsonaro quer é disputar contra o PT em 2022 e tudo o que queremos é um outro nome para a eleição, uma alternativa”, afirma.

Integrante da Executiva nacional, Albuquerque diz que partido é perseguido pelo PT desde 2014, quando lançou a candidatura de Eduardo Campos à Presidência. “Nós não temos memória curta. Essas lembranças estão vivas”, diz.

Nas eleições de outubro, o PSB tentará se manter no comando das duas capitais que governa, Recife e Rio Branco — e nas duas cidades poderá enfrentar o PT. O PSB governa o Estado de Pernambuco e lançará na capital o deputado João Campos, filho do ex-governador Eduardo Campos. Já o PT nacional apoia a deputada e pré-candidata Marília Arraes. Os petistas, no entanto, ainda divergem sobre a candidatura própria: o diretório municipal petista quer se aliar ao PSB.

Em Rio Branco, a prefeita Socorro Neri deve concorrer a um novo mandato. Socorro foi eleita como vice de Marcus Alexandre (PT) e assumiu a gestão quando o então prefeito deixou o cargo em 2018 para concorrer ao governo estadual. Os petistas estudam lançar candidato próprio na cidade.

Uma das principais apostas do PSB nestas eleições é São Paulo. Pré-candidato, o ex-governador e dirigente nacional do partido Márcio França convidou José Luiz Datena para filiar-se à legenda e compor a chapa. Caso aceite a proposta, Datena será o candidato e França poderá ser o vice. “Seria uma excelente chapa, qualquer que seja a posição de Datena e Márcio França”, diz o deputado estadual Caio França (PSB), filho de Márcio França. “Datena é uma figura muito simples, com capital [eleitoral] forte na periferia”.

O apresentador é cortejado também pelo presidente Jair Bolsonaro, que tenta lançá-lo pelo Aliança pelo Brasil, caso consiga viabilizar o partido para disputar as eleições deste ano.

O PSDB tenta atrair Márcio França e convidou o PSB a compor a chapa de reeleição do prefeito Bruno Covas, mas o acordo enfrenta resistências. O PSB era aliado dos tucanos no Estado, mas se afastou em 2018 quando o então prefeito João Doria disputou o governo paulista contra França. O dirigente do PSB era vice de Geraldo Alckmin (PSDB) e assumiu o Estado quando o tucano deixou o cargo para concorrer à Presidência. A disputa estadual foi marcada por acusações entre Doria e França.

As divergências políticas em relação a Doria fizeram com que parlamentares e prefeitos do PSB se aproximassem do presidente Jair Bolsonaro no Estado, em busca de apoio e recursos para obras que serão vitrines da campanha deste ano. Há dez dias, Caio França, o prefeito de Guarujá, Válter Suman (PSB), e o prefeito de São Vicente, Pedro Gouvêa (MDB), cunhado de Márcio França, almoçaram com Bolsonaro, em Guarujá, para agradecer a destinação de R$ 58 milhões para obras de uma ponte no litoral sul paulista, reduto eleitoral de França. Caio França elogia o presidente. “Podemos discordar de algumas posturas, mas fiquei muito grato como ele agiu. Bolsonaro pode preencher a lacuna do governo do Estado”, diz.

Dirigentes do PSB ponderam que as conversas sobre alianças ainda são preliminares, mas indicam composições em outras capitais. No Rio, o partido deve abrir mão da candidatura do deputado Alessandro Molon para se aliar ao PDT com a pré-candidatura da deputada Delegada Martha Rocha. Em São Luís, a legenda deve receber apoio do Psol para lançar o deputado federal Bira do Pindaré. Já em Cuiabá o PSB cogita apoiar o MDB, com a candidatura à reeleição do prefeito Emanuel Pinheiro.

O partido terá candidatura própria em João Pessoa, apesar do desgaste político enfrentado pelo PSB no Estado com a prisão em 2019 do ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho, um dos vice-presidentes do PSB. O presidente do diretório da Paraíba, deputado Gervásio Maia, já lançou sua pré-candidatura. “A prisão de Coutinho não teve base ilegal e ele já foi solto. Ele é muito importante no processo político da Paraíba e do PSB. Vamos ter candidatura sim, em respeito à história dele”, diz Maia.