Valor Econômico, v.20, n. 4866, 25/10/2019. Empresas p.B5

 

Petrobras lucra R$ 9,1 bilhões no 3º tri


Aumento da produção de óleo e gás e oferta de ações da BR Distribuidora alavancam o resultado


Por André Ramalho, Rodrigo Polito, Rafael Rosas, Marcelle Gutierrez e Ivan Ryngelblum 

A Petrobras fechou o terceiro trimestre com um lucro líquido de R$ 9,087 bilhões. O resultado representa alta de 36% em relação a igual período do ano passado, impulsionado pelo aumento da produção da companhia e pelo efeito da conclusão da oferta secundária de ações da BR Distribuidora. O lucro garantiu, aos acionistas, remuneração de R$ 2,6 bilhões, R$ 0,20 por ação ordinária e preferencial, relativos à antecipação da distribuição de juros sobre o capital próprio (JCP).

Já o Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) totalizou R$ 32,6 bilhões, alta de 9,1%, como reflexo do desempenho operacional positivo. Em mensagem incluída no balanço divulgado ontem, o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, destacou que a empresa atingiu, no terceiro trimestre, recorde histórico no seu fluxo de caixa operacional.

Apesar do expressivo crescimento de 14,6% na produção de óleo e gás no período, as receitas líquidas da empresa caíram 13,5%, para R$ 77,051 bilhões, na mesma base de comparação anual, impactadas, sobretudo, pela desvalorização do petróleo. A cotação do barril do tipo Brent ficou, na média, em US$ 61,94, retração de 17,7% em relação ao terceiro trimestre de 2018.

Com a conclusão da oferta pública de ações da BR, em julho, e da venda do Polo Pargo, na Bacia de Campos, a Petrobras garantiu a entrada de US$ 2,9 bilhões no seu caixa no terceiro trimestre. As operações ajudaram a puxar não só o lucro da petroleira para cima, como também a reduzir a alavancagem da empresa.

A dívida bruta da estatal caiu 11%, dos US$ 101 bilhões ao fim do segundo trimestre para US$ 89,9 bilhões em setembro, com os efeitos do IFRS16. Nessa mesma base de comparação, a dívida líquida recuou 10%, de US$ 83,7 bilhões para US$ 75,4 bilhões. A desalavancagem, medida pela relação dívida líquida/Ebitda, foi de 2,69 vezes para 2,58 vezes, na mesma base comparativa. A meta da companhia é chegar a um patamar de 1,5 vez ao longo de 2020.

Segundo a Petrobras, a securitização dos recebíveis da Eletrobras, no valor de R$ 8,4 bilhões, também foi relevante para ajudar a empresa a reduzir sua dívida, além de eliminar o risco de não recebimento dos fluxos futuros. A operação, contudo, resultou numa despesa financeira de R$ 509 milhões.

Em sua carta aos acionistas, Castello Branco comemorou a redução da dívida, mas reforçou que a estatal está apenas “no início de uma caminhada com muitos e importantes obstáculos a vencer”.

“Somos ainda uma companhia muito endividada, com custos altos e numa indústria que se defronta com grandes desafios num cenário global de aceleração de mudanças e crescente interdependência entre diferentes atividades econômicas”, afirmou.

Num vídeo sobre o desempenho na companhia no terceiro trimestre, a diretora financeira e de relações com investidores, Andrea Almeida, explicou que a redução da alavancagem tem sido obtida, principalmente, por meio da recompra de bonds e do pré-pagamento de operações bilaterais.

A Petrobras segue também a sua trajetória de redução de investimentos. No terceiro trimestre, foram desembolsados US$ 2,61 bilhões, queda de 33,2% na comparação com igual período de 2018. A companhia reiterou a projeção de investimentos de US$ 10 bilhões a US$ 11 bilhões para o ano.

Castello Branco deu destaque também ao fato de o custo de extração (“lifting cost”) no pré-sal ter alcançado no terceiro trimestre “nível sem precedentes” de US$ 5 por barris de óleo equivalente (BOE), o que contribuiu para que o custo médio de extração da companhia fosse de US$ 9,7 por BOE.

Ele afirmou que a estatal tem implementado várias iniciativas para cortar custos de forma permanente. Nesse sentido, o executivo informou que mais de 2 mil funcionários já se inscreveram em Programas de Demissão Voluntária recém lançado pela petroleira. Castello Branco também disse que a empresa desocupará quatro prédios até o fim do ano e que pretende cortar o número de escritórios fora do Brasil de 18 para cinco.

O presidente citou ainda os esforços para venda de ativos com baixo retorno, como a Belém Bioenergia. E lembrou da transferência das ações da Montevidéu Gás e da Conecta, distribuidoras de gás no Uruguai, para o governo do país vizinho, ativos que Castello Branco classificou como “geradores de prejuízos sistemáticos para a Petrobras ao longo de vários anos”.

Sobre novos desinvestimentos, o executivo disse que espera concluir em novembro o acordo para a venda da Liquigás, bem como receber, também no mês que vem, as propostas não vinculantes para a venda das refinarias Rnest (PE), Rlam (BA), Repar (PR) e Refap (RS).

 

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Gás em terra e GNL superam o pré-sal


Eneva e Imetame foram destaques ao vencerem concorrentes com produção no mar


Por André Ramalho e Rodrigo Polito

 

O leilão de energia A-6, que contratou na semana passada uma capacidade instalada de 2.979 megawatts (MW), com entrega para daqui a seis anos, consagrou o modelo “gas-to-wire” (como é conhecida a construção de termelétricas próximas ao poço produtor de gás). Em meio às discussões para a abertura do mercado brasileiro de gás natural, a licitação consolidou a Eneva e a Imetame entre as principais produtoras privadas de gás em terra do país. Por outro lado, as grandes petroleiras do pré-sal não conseguiram emplacar seus projetos e, como consequência, garantir mercado consumidor para suas respectivas produções.

Ao todo, três termelétricas a gás foram contratadas no A-6, somando 734 MW, o equivalente a cerca de 25% da potência total negociada no leilão. As usinas a gás foram a principal fonte negociada no certame. Além das duas térmicas gas-to-wire - Parnaíba II (92 MW), da Eneva, e Prosperidade II (37 MW), da Imetame - o pregão contratou, ainda, um terceiro empreendimento a gás: o Novo Tempo Barcarena (604 MW), mas que consumirá combustível importado via cargas de gás natural liquefeito (GNL). O empreendimento pertence à Golar Power.

O modelo “gas-to-wire” foi implementado pela primeira vez no país pela Eneva, quando a companhia ainda se chamava MPX (então braço de geração de energia elétrica de Eike Batista). A operação na Bacia do Parnaíba começou há cinco anos e, desde então, a empresa se tornou a maior geradora termelétrica privada do Brasil. Ela possui 1,4 mil MW de capacidade instalada em usinas a gás, no Complexo Parnaíba, no Maranhão. A Eneva também é hoje a terceira maior produtora de gás do país, atrás de Petrobras e Shell.

O modelo bem-sucedido da Eneva inspirou a Imetame, que decidiu replicar o conceito em menor escala e monetizar suas reservas de gás natural na Bacia do Recôncavo por meio de projeto termelétrico na Bahia. A empresa inaugurou no ano passado a usina Prosperidade (28 MW), em Camaçari (BA) e, agora, garantiu a expansão de seu parque gerador, consolidando-se como uma das principais produtoras de gás em terra.

“É um espetáculo para o Brasil que isso [sucesso dos projetos gas-to-wire] esteja acontecendo. Isso é bom para a cadeia produtiva e para o desenvolvimento do Brasil”, afirmou Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil. “O preço final para a fonte termelétrica foi bastante expressivo. Foi muito agressivo, devido ao alto grau de competição. E o GNL saiu vitorioso competindo com o pré-sal”, resumiu o especialista.

José Roberto Faveret Cavalcanti, especialista e sócio do escritório Faveret Lampert, por sua vez, conta que o resultado do leilão A-6 sugere também que a “monetização do gás natural do pré-sal pode ser mais complicada do que se supõe”.

Segunda maior produtora de gás do Brasil, a Shell, por exemplo, tentou negociar o projeto de expansão da termelétrica Marlim Azul (565 MW), em Macaé (RJ), mas sem sucesso. A Petrobras também não conseguiu viabilizar contratos para fornecimento de seu gás a novas usinas.

Para além da Eneva e Imetame, a ExxonMobil saiu como vencedora do leilão de sexta-feira, ao entrar como fornecedora de GNL importado para a usina de Barcarena.

 

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Avança venda de refinarias


Os potenciais compradores receberão memorando descritivo, com informações mais detalhadas sobre os ativos


Por Marcelle Gutierrez 

A Petrobras iniciou a fase não vinculante para a venda de ativos em refino, que inclui: Refinaria Isaac Sabbá (Reman) no Amazonas, Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (Lubnor) no Ceará, e Unidade de Industrialização do Xisto (SIX) no Paraná, assim como os ativos logísticos correspondentes.

De acordo com comunicado, nessa fase os potenciais compradores receberão memorando descritivo, com informações mais detalhadas sobre os ativos, além de instruções sobre o processo de desinvestimento, incluindo as orientações para elaboração e envio das propostas não vinculantes.

A distribuição do memorando começou ontem para compradores habilitados que assinarem o acordo de confidencialidade e declaração de conformidade. Os documentos devem ser assinados até 6 de dezembro, com manifestação de interesse até 22 de novembro.

“Os desinvestimentos em refino estão alinhados à otimização de portfólio e à melhoria de alocação do capital da companhia, visando a maximização de valor para os nossos acionistas”, informou.