Valor Econômico, n. 4920, 16/01/2020. Opinião, p. A14

Produção agrícola promete um novo recorde neste ano


O Brasil caminha para marcar mais um recorde na produção agrícola, indicam as previsões mais recentes. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou na semana passada a estimativa de que a safra 2019/20 de grãos vai atingir 248 milhões de toneladas, projetando crescimento de 2,5% em relação à anterior, acima do que havia previsto em dezembro. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também elevou os números anteriores e agora prevê aumento de 0,7% da safra, para 243,2 milhões de toneladas.

Uma combinação de clima favorável, disponibilidade de crédito, aumento da área plantada e da produtividade sustentam o novo recorde. De acordo com os dados da Conab, a área plantada total estimada aumentou 1,5%, para 64,2 milhões de hectares, e a produtividade média, calculada em 3.864 quilos por hectare, avançou 1% na mesma base de comparação.

Os registros recordes serão puxados pela soja, desta vez, e não pelo milho como foi no ano passado. A colheita da soja desta safra começou nos últimos dias em Mato Grosso, principal produtor do país, com algum atraso (Valor 13/10). A falta de chuva retardou o plantio em várias regiões, mas a comercialização está adiantada. O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) notou que já há negociação até da próxima safra, estimulada pela elevação dos preços na bolsa de Chicago, pela boa relação de troca com fertilizantes e pelo comportamento do câmbio. O bom desempenho da produção em Mato Grosso vai neutralizar os resultados do Rio Grande do Sul, que serão prejudicados pelas chuvas irregulares no período de plantio.

A soja responde por nada menos que 1,1 milhão do aumento de aproximadamente 1,4 milhão de toneladas previsto pela Conab no volume total da safra deste ano. A colheita da oleaginosa alcançará o recorde de 122,2 milhões de toneladas, um aumento de 6,3% em relação à safra 2018/19. Os números do IBGE não são muito diferentes: estima uma colheita de soja em 122,4 milhões de toneladas, com aumento de 7,8% acima do registrado no ano passado.

Avaliações do setor privado são ainda mais otimistas. A Agroconsult fala em uma colheita de soja de 124,3 milhões de toneladas, impulsionada pelo aumento de 2,2% da área plantada -36,7 milhões de hectares. Há quem veja nisso reflexo do comportamento do mercado em 2019, quando os chineses ampliaram as compras do Brasil, resultado do atrito comercial com os EUA, outro grande produtor de grãos. Agora que os dois gigantes parecem se encaminhar para normalizar as relações, resta saber os reflexos na produção brasileira. A intenção dos produtores brasileiros é liderar a exportação de soja.

Já a produção de milho deve ser menos exuberante, mesmo sobre uma base de comparação elevada. Somando a primeira, segunda e terceira safras, a Conab prevê 98,7 milhões de toneladas de milho produzidos, 0,3% acima do projetado em dezembro, mas 1,3% menor que o da safra anterior. O resultado será prejudicado porque a segunda safra tende a sofrer redução de 3,1%, para 70,9 milhões de toneladas, em consequência do clima.

Em relação aos demais principais produtos agrícolas, poucas foram as mudanças nas previsões. A Conab ajustou a projeção para o algodão para 2,8 milhões de toneladas, um aumento de 1,1% em relação à temporada passada. No caso do arroz, a colheita foi ajustada para 10,6 milhões de toneladas, 1% mais que em 2018/19; no feijão, o volume total das três safras do ano foi mantido em 3 milhões de toneladas. Já no caso do trigo, do qual o Brasil é um dos grandes importadores, a Conab reduziu levemente a estimativa para a colheita.

Estudo do Bradesco mostra o Brasil como responsável por mais de um terço da produção mundial de soja, à frente dos Estados Unidos, responsável por quase 30%. O Brasil exporta pouco mais da metade da produção da oleaginosa e quase 20% do algodão, enquanto a China concentra 57% das importações globais da primeira e 24% do segundo. Das exportações brasileiras de soja, 75% vão para a China e 10% para a Europa. Os números expõem bem como o Brasil é afetado pelo clima das relações entre os Estados Unidos e a China.

De toda forma, os números mostram também que a torcida para a melhora da economia brasileira neste ano pode contar com o suporte da agropecuária, que tem um peso de 5,5% no Produto Interno Bruto (PIB), quase o mesmo dos 5,4% da construção civil. O PIB da agropecuária deve crescer ao redor de 2% neste ano, acima do esperado para 2019.