Valor Econômico, n. 4920, 16/01/2020. Política, p. A10

Briga por cargos no PT atrasa definição de candidaturas e alianças
Andrea Jubé
Cristiane Agostine


A menos de um ano das eleições, o PT ainda está enredado em uma disputa interna por cargos na Executiva Nacional, o que emperrou as articulações para a formação de chapas e alianças. Uma das divergências mira a tesouraria, cargo mais sensível da direção partidária, que já teve titulares presos no passado no âmbito da Lava-Jato.

Na tentativa de modernizar o partido, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), propôs a criação de uma junta orçamentária e a adoção de um programa inédito de compliance. É obrigatório o desfecho desse embate hoje, em reunião da tendência majoritária da sigla, Construindo um Novo Brasil (CNB), em São Paulo, para a qual é esperado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O impasse tem que ter solução porque, passados dois meses da recondução de Gleisi à presidência do PT, a nova Executiva ainda está indefinida e a posse do colegiado está agendada para amanhã, em reunião do diretório nacional, que terá a participação de Lula.

O ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) Vagner Freitas é o mais cotado para suceder a Emídio de Souza na Secretaria de Finanças e Planejamento, mas o ex-titular do cargo Márcio Macedo também está no páreo. Corre por fora o nome da secretária de Organização Partidária, Gleide Andrade.

Uma das propostas debatidas no partido é dividir o tempo do mandato entre os dois dirigentes, com dois anos para cada um deles ficar no cargo de tesoureiro. O posto é sensível na história recente do PT: três ex-titulares foram presos no âmbito das investigações da Lava-Jato (João Vaccari Neto, Delúbio Soares e Paulo Ferreira).

Depois de dedicar o primeiro mandato praticamente ao movimento “Lula livre”, Gleisi agora quer imprimir novas práticas de gestão. Ela defende a criação de uma “junta orçamentária” para garantir um orçamento transparente, em especial em ano eleitoral, quando os diretórios travam uma disputa acirrada pelos recursos do fundo eleitoral.

Gleisi também quer implantar o programa de integridade. A Executiva anterior já aprovou a contratação de um escritório de compliance, e a expectativa da dirigente é que o novo colegiado autorize a execução do projeto.

Há outros cargos em disputa na Executiva, como as secretarias de Relações Internacionais, de Organização Partidária e de Comunicação Social. O deputado Paulo Teixeira (SP) é o mais cotado para assumir a Secretaria-Geral.

A disputa interna tem se refletido diretamente na articulação eleitoral do PT, atrasando a costura de alianças e a definição de candidaturas. A estratégia nas capitais só deve ser definida no próximo mês, perto das comemorações do aniversário de 40 anos do partido.

“O centro do debate da reunião [de hoje] não é a eleição municipal, mas sim como ficará a Executiva Nacional”, disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).

O Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE), responsável pelos acordos regionais, deve ser definido nas reuniões de hoje e amanhã. Um dos principais articuladores do grupo deve ser o deputado federal José Guimarães (CE).

Quando houver impasse, como no caso da candidatura à Prefeitura do Recife, a palavra final será do Diretório Nacional, que poderá vetar o lançamento de petistas ou barrar alianças. Na capital pernambucana, o comando do PT e Lula devem definir se o partido manterá a pré-candidatura da deputada federal Marília Arraes, ou se dará respaldo à decisão do diretório do Recife, que ontem divulgou uma resolução defendendo a manutenção da aliança com o PSB. A legenda aliada lançará o deputado João Campos, filho do ex-governador Eduardo Campos (PSB). “A última palavra será sempre do diretório nacional”, reforçou Humberto Costa, que defende o acordo com o PSB no Recife.

O caso de São Paulo é visto com preocupação e desânimo por dirigentes do partido. Sem um nome forte eleitoralmente para concorrer na capital paulista, o partido marcou para 15 de março uma prévia. O ex-prefeito Fernando Haddad já avisou que não disputará um novo mandato e as negociações para tentar atrair a ex-prefeita Marta Suplicy têm esbarrado na resistência de dirigentes petistas.

Há pelo menos seis cotados para concorrer na disputa paulistana. Entre eles estão, o deputado e ex-ministro Alexandre Padilha, o ex-secretário municipal Jilmar Tatto, o vereador Eduardo Suplicy e o deputado federal Carlos Zarattini. A sigla prefere que Suplicy dispute mais um mandato na Câmara Municipal para ajudar a puxar votos para a legenda e aumentar a bancada de vereadores.

Zarattini cobra unidade dos partidos de oposição em São Paulo. “A esquerda vai sair com cinco candidatos. Isso é querer nem passar para o segundo turno”, criticou. O pré-candidato defende que PT, PSB, PDT, PCdoB e PSOL busquem um programa mínimo de consenso para São Paulo, ou então realizem primárias para definir o candidato.