Valor Econômico, v.20, n. 4869, 30/10/2019. Valor investe p.A8

 

O Copom, o Federal Reserve e o FMI


Atenções estarão voltadas para os comunicados, em que indicarão os próximos movimentos


Por Luiz Eduardo Portella

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e o Banco Central do Brasil (BCB) se reúnem hoje para mais uma decisão de política monetária.

Como em toda reunião, o cenário internacional é sempre uma variável importante para a tomada de decisão de cada uma das instituições. Nesse sentido, as discussões em Washington durante a reunião anual do FMI trouxeram esperança de dias melhores para a economia mundial.

Após uma semana intensa de reuniões e discussões sobre a economia, a principal mensagem do encontro foi a expectativa de retomada da economia global. Os estímulos monetários dos bancos centrais de China, EUA e Europa e a possível trégua na guerra comercial entre americanos e chineses devem ajudar na retomada da economia mundial. Os países emergentes também estão em um ciclo de afrouxamento monetário e alguns, como a Índia, iniciam um estímulo fiscal com cortes de impostos. Além disso, Reino Unido e Europa chegaram a um acordo no texto final com os principais pontos para o Brexit.

O forte aperto monetário praticado pelo Fed e a queda do comércio mundial, impulsionada pela incerteza dos empresários com a guerra de tarifas entre EUA e China, derrubou a economia global desde 2018. Essa desaceleração afetou os EUA, trazendo preocupação com o cenário de recessão em 2020 e a falta de instrumentos pelos bancos centrais para enfrentar uma nova crise global.

Esse foi o tema dos principais painéis envolvendo economistas e diretores de bancos centrais. O juro negativo não estaria sendo suficiente e poderia estar, inclusive, atrapalhando a retomada da economia, prejudicando os bancos e forçando as pessoas a terem que poupar mais para garantir uma aposentadoria no futuro.

Em outras palavras, o juro negativo não está ajudando a aumentar o consumo no curto prazo. Uma ação coordenada entre as principais economias seria necessária para sair dessa crise global e foi defendida durante o encontro. A resolução do Brexit e um avanço das negociações entre EUA e China trouxeram otimismo para a retomada da economia global.

O Fed se reúne bastante dividido para tomar a decisão de reduzir o juro pela terceira vez seguida nessa reunião, totalizando 75 pontos-base. William Dudley, diretor responsável pelo Fed de Nova York entre 2009 e 2018, fez uma excelente apresentação, expondo seu cenário para a economia americana e para as próximas decisões da instituição. Dudley acredita que o banco central deva reduzir a taxa de juros em 25 pontos-base hoje e indique que esse ciclo curto seja suficiente para estabilizar o crescimento nos EUA ao redor do potencial.

Além disso, defende que um novo corte em dezembro seria apenas possível caso os números da economia americana decepcionem bastante ou caso a economia global continue apresentando sinais de forte desaceleração. O ex-diretor se mostrou otimista para 2020. O forte fechamento da curva de juros americana está impulsionando o mercado imobiliário e o consumidor continua resiliente.

O presidente do BC brasileiro, Roberto Campos Neto, fez três apresentações durante os dias do FMI. Nelas, enfatizou a melhora dos indicadores econômicos dos últimos meses, principalmente os relacionados à atividade, em que pela primeira vez houve revisões positivas de crescimento.

As expectativas para o terceiro trimestre saíram de negativas para 0,50% positiva e um crescimento em 2020 de 2,5% já é realidade. Explicou para o investidor estrangeiro a transformação que a economia brasileira está passando: saindo de uma economia em que o investimento público era o principal fator de crescimento e agora se transformando, dando espaço para o setor privado ser a locomotiva do crescimento.

O mercado de crédito imobiliário está sendo o primeiro a responder positivamente ao novo patamar do juro. Financiamento está em forte alta e novos projetos estão sendo lançados. Questionado se o Brasil poderia ver juros reais negativos ou zero em 2020, Campos Neto disse que não dá pra saber o que vai acontecer. Mas foi firme em refutar aceleração do corte nessa reunião para um ritmo de 75 pontos-base. Política monetária tem que ser crível, não adianta cair o juro e, como resultado, a curva “steepar”, o risco piorar e o câmbio subir. Acaba que o efeito das condições financeiras tem um efeito contracionista.

Hoje, não vamos ter surpresas com o corte de juro pelo BC e pelo Fed. As atenções estarão voltadas aos comunicados. A percepção de melhora da economia global deve levar o Fed a sinalizar o fim do ciclo e o modelo de previsão de inflação do BC deve apresentar melhora e indicar que podemos ter uma Selic próxima a 4% no início de 2020.