Valor Econômico, v. 20, n. 4900, 13/12/2019. Brasil, p. A7
 

Avanço de conta própria vai além da crise, diz Ipea
Bruno Villas Bôas

 

Umados principais responsáveis pela recuperação do mercado de trabalho, a ocupação por conta própria - espécie de autônomo, sem patrão nem empregados - cresce não apenas pelo cenário ruim de emprego no país, mas também por aspectos estruturais: as novas formas de trabalho, com a “economia de aplicativos”, e mais possibilidades de terceirização.

Essa avaliação é de economistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que divulgaram ontem a “Carta de Conjuntura” do terceiro trimestre. Segundo o pesquisador Carlos Henrique Corseuil, o trabalho por conta própria funciona como uma espécie de colchão amortecedor nos momentos de crise. Para ele, o que surpreende é o avanço dessa forma de inserção após o mercado de trabalho passar a apresentar sinais de recuperação, ainda que tímidos, a partir do terceiro trimestre de 2017.

“Neste momento em que o emprego cresce, a conta própria também cresce. Então, podemos estar vendo uma mudança no mercado de trabalho, relacionada à tecnologia e regulamentação da terceirização de uma gama maior de atividades”, disse.

Dados do IBGE mostram avanço do trabalho por conta própria principalmente nos subsetores de transporte terrestre e nas atividades de entrega, o que está associado à difusão de serviços por aplicativos, como Uber iFood e Rappi.

“As ocupações por conta própria já atraiam pessoas devido à sua flexibilidade de horário, mas isso pode ter sido potencializado agora por esses novos elementos”, disse o economista, acrescentando que o número de trabalhadores da área que contribuem para a Previdência é um foco de atenção.

Dados do IBGE mostram que a parcela de contribuintes para Previdência, em relação ao total de trabalhadores ocupados, caiu do primeiro para o terceiro trimestre de 2019, de 63,6% para 62,3%. O motivo seria, exatamente, o aumento na parcela de conta própria e empregados sem carteira no total de ocupados. “Precisamos acompanhar se a recuperação mais forte da economia e da renda do conta própria pode reverter isso.”

O relatório do Ipea também abordou a desigualdade de renda do trabalho e identificou estabilidade do indicador. O índice de Gini da renda domiciliar per capita foi de 0,532 no terceiro trimestre deste ano, igual ao do mesmo período de 2018. O indicador mostrava piora em 14 dos últimos 15 trimestres.