O Globo, n. 32684, 31/01/2023. Economia, p. 14

Prates diz que futuro da política de preços é ''assunto de governo”

Vitor da Costa
Ivan Martínez-Vargas


O novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse ontem que o futuro da política de preços da estatal é “assunto de governo”. O ex-senador teve seu nome aprovado para o cargo na semana passada, e o mercado espera mudanças na condução da empresa, inclusive na política de preços, que já foi criticada pelo presidente Lula. Prates disse que os nomes dos conselheiros e diretores da nova gestão devem ser definidos até o fim desta semana.

Após o envio da lista para apreciação do Conselho de Administração da Petrobras, o processo burocrático para que os indicados tomem posse pode durar de uma a duas semanas, a depender dos requerimentos que serão exigidos internamente, acrescentou Prates. O Ministério de Minas e Energia ainda enviará os nomes dos conselheiros, segundo o presidente da estatal.

— Já estão praticamente definidos. Tem uma ou outra dúvida ainda, mas esta semana a gente resolve isso. Os conselheiros estão em processo de escolha com o governo federal em geral e também devem, eventualmente, ser anunciados junto com os diretores —afirmou, durante workshop mundial do Programa de Aceleração do Empreendedorismo Regional (Reap), do Massachussets Institute of Technology (MIT), no Rio.

Transição energética

Prates confirmou a criação da Diretoria de Transição Energética na estatal, mas diz que pode levar um tempo para sair do papel:

— Neste momento, vamos ter que ocupar os espaços que já existem. A Diretoria de Transição Energética e outras modificações de organograma também têm que ter um processo interno e ser aprovado pela diretoria e pelo conselho. Tem um processo burocrático interno que a gente tem que seguir. Não vai acontecer neste momento.

Investidores se preocupam que o novo comando da estatal amplie investimentos fora do negócio central da empresa, com mais aportes em energia renovável. Além do receio de alterações na política de preço, que repassa a flutuação do câmbio e do barril de petróleo para o preço, temem uma redução nos dividendos em razão do volume maior de investimento.

No evento, Prates defendeu o investimento em inovação e citou como caso de sucesso o Centro de Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da estatal. Ele ainda citou o programa “Petrobras: conexões e inovações”, que possui mais de 60 novas parcerias, superando o valor de R$ 140 milhões de investimentos:

— Nós não vamos ter a mesma lógica e logística e a mesma relação de consumo em dez anos que nós temos hoje no setor de petróleo e energia [...] Pesquisa, ciência, tecnologia e inovação têm que estar entranhado na atividade fim das nossas empresas. Não vai ser de outra forma que vamos chegar ao consumidor, que vamos armazenar energia, buscar energias renováveis.

Em outra frente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou ontem em São Paulo que “não tem nenhuma alteração prevista” sobre a questão da reoneração dos combustíveis fósseis.

— Até o presente momento, é aquilo que foi decidido no dia 1º de janeiro pelo presidente Lula, não tem nenhuma alteração prevista até o momento — afirmou Haddad a jornalistas após encontro com empresários e dirigentes de entidades patronais na sede da Fiesp.

O ministro não fez mais comentários sobre o assunto. Em sua primeira semana de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu manter zerados os impostos federais sobre gasolina e etanol, na contramão do que defendia a equipe econômica de Haddad. As desonerações de PIS/Cofins sobre gasolina e álcool e da Cide sobre gasolina vencem em 28 de fevereiro, como estipulado na Medida Provisória publicada ainda no governo Jair Bolsonaro (PL).