O Globo, n. 32681, 28/01/2023. Política, p. 5

PF mira sobrinho de Bolsonaro e prende seis

Fernanda Alves
Patrik Camporez
Alice Cravo
Eduardo Gonçalves
Luísa Marzullo
Mariana Muniz


A Polícia Federal deflagrou ontem a terceira fase da operação Lesa Pátria, cujo objetivo é identificar participantes, financiadores e fomentadores dos ataques golpistas de 8 de janeiro, que provocaram a invasão e depredação dos prédios dos três Poderes. Um dos alvos da ação foi Léo Índio, sobrinho do ex-presidente Jair Bolsonaro. A corporação cumpriu mandado de busca e apreensão na casa dele, que, no dia dos atos terroristas, publicou registros na rampa do Congresso Nacional.

 

Seis pessoas foram presas ontem. Foi determinado, ao todo, o cumprimento de 11 mandados de prisão preventiva e 27 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal (STF), nos estados de Santa Catarina, Rio, Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo e no Distrito Federal.

Em ação no STF por participação no ato golpista, Léo Índio é acusado pelos crimes de abolição violenta do Estado democrático de Direito e de golpe de Estado. No início da semana, ele solicitou gratuidade de Justiça e anexou uma declaração de hipossuficiência ao processo. No passado, Léo Índio foi assessor do vereador Carlos Bolsonaro (RepublicanosRJ), seu primo, e ocupou cargos de confiança nos gabinetes do senador Chico Rodrigues (União Brasil-RR) e da liderança do PL no Senado. Também em 2022, ele tentou se eleger deputado distrital sob a alcunha de Léo Bolsonaro. O sobrinho não tem o sobrenome do ex-presidente por ser filho de uma irmã de Rogéria Nantes, ex-mulher de Bolsonaro e mãe de Carlos, Eduardo e Flávio. O GLOBO não conseguiu localizar  a defesa de Léo Índio. Entre os presos ontem está Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza, a Fátima de Tubarão, de 67 anos, conhecida por aparecer em um vídeo xingando o ministro Alexandre de Moraes, do STF, durante a invasão em Brasília. Antes de participar dos atos golpistas, Maria de Fátima foi condenada por tráfico de drogas. Em 2014, ela se tornou alvo de um processo que corre em sigilo no Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Além de tráfico, ela responde pelos crimes de estelionato e falsificação de documento público. No vídeo que viralizou nas redes sociais, a idosa ameaça Moraes:

— Vamos para a guerra,é guerra agora. Vamos pegar o Xandão agora.

Em Minas Gerais, duas pessoas foram detidas. A prisão de Marcelo Eberle Motta ocorreu em Juiz de Fora. Na cidade mineira, Motta é coordenador do movimento Direita Vive! e conhecido por insultar jornalistas. Em vídeo divulgado em suas redes sociais, ele aparece se escondendo atrás de um tronco de árvore enquanto manifestantes entram em confronto com agentes de segurança nos ataques de 8 de janeiro.

Registros em vídeos

Também foi preso no estado Eduardo Antunes Barcelos. Morador de Cataguases, o advogado atua como assessor jurídico da Santa Casa de Misericórdia do município. Moradores da cidade na Zona da Mata mineira chegaram a fazer um abaixo-assinado pedindo sua demissão. Em um vídeo gravado no dia das invasões, Dudu, como o advogado é conhecido, registra os bolsonaristas subindo a rampa do Congresso. Em Vila Velha (ES), foi preso o ex-policial militar e empresário Valfrido Chieppe Dias. Também em registros do dia da invasão, ele aparece mostrando a destruição na Esplanada e reclama de um ferimento no rosto ocasionado por um tiro de bala de borracha. No estado, a casa do ex-prefeito de Pancas, Marcos Matavelli, também foi alvo de busca e apreensão. Outro preso identificado é Claudio Mazzia. Morador de Londrina, no norte do Paraná, ele é suspeito de organizar uma excursão de 20 ônibus para o Distrito Federal. Mazzia teria divulgado a ação nas redes sociais, que viralizou após a ação de vândalos em Brasília. Em entrevista à RPC, o irmão de Mazzia disse que os prints são uma montagem. Ainda foi alvo de busca e apreensão o fazendeiro Fernando Junqueira Ferraz Filho, primo do prefeito de Leopoldina (MG), Pedro Augusto Junqueira Ferraz, filiado ao PL. O bolsonarista gravou um vídeo, a caminho da Praça dos Três Poderes, agradecendo a “amigos” por financiarem sua ida a Brasília. Ele também responde a uma ação criminal no Tribunal de Justiça de Minas Gerais por crime ambiental.

Nova leva

Ontem, a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou mais 150 denúncias contra envolvidos nos atos antidemocráticos. Os denunciados foram detidos no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, e são acusados de associação criminosa e incitação ao crime. Está é a quinta leva de denúncias da PGR, que já representou contra 254 pessoas envolvidas nas ações golpistas de 8 de janeiro. Os denunciados estão presos em unidades do sistema prisional do Distrito Federal, após a audiência de custódia e a decretação das prisões preventivas.