Valor Econômico, n. 4916, 10/01/2020. Política, p. A6

Alcolumbre entrega obras e cumpre agenda de campanha no Amapá
Andrea Jubé
Vandson Lima


O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), reservou o recesso parlamentar para fazer uma imersão no Amapá, seu Estado natal e base eleitoral. Desde o dia 21 de dezembro, quando desembarcou em Macapá, Alcolumbre cumpriu uma agenda típica de candidato: inaugurou obras, entregou casas populares e anunciou novas ações com recursos de emendas de sua autoria.

Ele não concorrerá a cargo eletivo neste ano, mas usa sua posição de cabo eleitoral influente em favor do irmão e primeiro suplente, Josiel Alcolumbre (DEM), que o acompanha nas agendas e é pré-candidato a prefeito da capital.

A última agenda de Alcolumbre em Brasília foi no dia 20 de dezembro, quando prometeu um esforço do Parlamento durante o recesso para fazer andar a comissão mista da reforma tributária. O avanço esperado não aconteceu.

Já no dia 22, acompanhado de Josiel, Alcolumbre visitou a obra da sede do Corpo de Bombeiros em Macapá e seguiu para Santana, segundo município mais importante do Estado. Nos últimos 20 dias, o presidente do Senado anunciou a liberação de recursos federais em benefício da capital e do Estado, visitou canteiros e entregou obras, sempre acompanhado de Josiel e do atual prefeito de Macapá, Clécio Luís (Rede), com quem compartilha os dividendos políticos das realizações.

Nesse período, Alcolumbre fez uma escala pontual em Brasília, no dia 27 - com Clécio e Josiel a tiracolo - para assegurar a liberação de R$ 110 milhões em recursos federais para obras de infraestrutura.

No dia seguinte, Alcolumbre retornou a Macapá acompanhado do ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, e do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, para conduzir uma solenidade do programa Minha Casa, Minha Vida. Ao lado das autoridades federais, anunciou a destinação de R$ 260 milhões para a construção de 1,5 mil novas unidades em um condomínio popular.

Nesta semana, o trio Alcolumbre, Josiel e Clécio entregou, em dias alternados, uma unidade básica de saúde e um centro de especialidades odontológicas. A participação de Josiel é sempre fotografada e divulgada nas redes sociais. Em pleno domingo, vistoriaram obras de pavimentação em um bairro da capital.

Alcolumbre apoiou a eleição e a reeleição de Clécio à prefeitura, mas a aliança entre o DEM e o Rede no Estado está com os dias contados. Clécio tem alta aprovação na capital, com munição para eleger o sucessor. Mas tem compromisso com o partido e seu padrinho político, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

“A Rede terá candidato, o natural é que o prefeito apoie o candidato do partido”, disse Randolfe ao Valor. Um dos cotados é o advogado Ruben Bemerguy, que foi elogiado pelo prefeito. “Ruben é uma das minhas grandes inspirações, muito do que sou e sei hoje como gestor devo ao Ruben”, escreveu Clécio em uma rede social nesta semana. É estratégico para o Rede preservar a Prefeitura de Macapá, a única capital administrada pelo partido.

Embora no plano federal Alcolumbre seja apontado como um possível candidato ao governo, no meio político local afirma-se que o presidente do Senado tem outras pretensões. Quer se manter em evidência no cenário nacional e deve concorrer à reeleição ao Senado. Para acomodar as diferentes alas de seu grupo político, prometeu apoiar Clécio como candidato ao governo em 2022, em troca do aval do prefeito à candidatura de Josiel.

Deputado federal entre 2003 e 2014, Alcolumbre já integrou o grupo político do ex-presidente José Sarney, sendo inclusive secretário de Obras em Macapá, na gestão de Roberto Góes, primo do atual governador do Estado, Waldez Goes.

Em 2012, rompeu, concorreu à prefeitura, mas ficou em quarto lugar. No segundo turno, uniu-se ao grupo de Clécio e Randolfe para derrotar Góes, que buscava a reeleição.

Dois anos depois, Sarney resolveu deixar a política e indicou Gilvam Borges (MDB) para tentar sucedê-lo no Senado. Alcolumbre acabou surpreendendo e ficando com a vaga, em seu maior feito político, antes de ascender ao comando do Senado.

Pragmático, Alcolumbre pôs de lado seus vínculos com a esquerda recentemente e investiu na aliança com o presidente Jair Bolsonaro. Em abril, inaugurou ao lado do presidente o novo aeroporto internacional de Macapá, batizado com o nome de seu tio, Alberto Alcolumbre.

Por meio de sua assessoria, o presidente do Senado ponderou que está compensando o tempo que não pode dedicar ao seu Estado devido aos compromissos oficiais da presidência do Congresso. Ele afirma que em 2019, só visitou o Amapá seis ou sete vezes.

A assessoria de Alcolumbre nega que ele esteja promovendo o irmão, mas, sim, fazendo prestação de contas do mandato, inclusive envolvendo os deputados e senadores do Estado quando as obras resultam das emendas de bancada. Esclarece que Josiel acompanha Alcolumbre nas agendas, mas não discursa nem tem protagonismo, embora sempre apareça nas fotos e vídeos divulgados nas redes sociais.

Alcolumbre observa que a escolha do irmão para a primeira suplência foi a opção que se viabilizou em 2014, porque os nomes sondados para compor a chapa acabavam cooptados pelo grupo de Sarney, que era a força hegemônica na ocasião.