Valor Econômico, v. 20, n. 4896 07/12/2019. Brasil, p. A6
 

Com renda maior, homem tem índice melhor que mulher
 Mariana Ribeiro 


Embora estudem e vivam mais do que os homens, as mulheres brasileiras ainda ficam um passo atrás no que diz respeito à qualidade de vida e às oportunidades. No ano passado, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do homem ficou em 0,761 enquanto o da mulher foi de 0,757. A escala varia de zero a um.

A análise do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), feita em 166 países e divulgada hoje, destaca que as mulheres têm melhor desempenho em critérios ligados à educação e longevidade. A grande diferença, no entanto, se dá nos rendimentos. Em 2018, a renda nacional bruta per capita dos homens foi 70,9% maior que a das mulheres: de US$ 17.827 por ano para eles e de US$ 10.432 para elas.

No ano passado, a expectativa de vida ao nascer das mulheres brasileiras era de 79,4 anos, e a dos homens, de 72 anos. O mesmo é observado nos anos esperados de estudos (15,8 anos entre elas, contra 15 anos entre eles) e na média de anos de estudos (8,1 anos ante 7,6 anos), outros dois critérios utilizados no cálculo do IDH.

Apesar desse cenário, o diretor do Escritório do Relatório de Índice de Desenvolvimento Humano do Pnud, Pedro Conceição, observa que, no Brasil, as diferenças de gênero no IDH são menos acentuadas do que em outros países da América Latina. “O Brasil fica entre os que têm o menor nível de desigualdade na região.”

Na média, o IDH do homem na América Latina e Caribe é de 0,764, bem superior ao da mulher, de 0,747. Na análise geral, as mulheres também ficam à frente dos homens nos critérios de saúde e educação. No que diz respeito à renda per capita, no entanto, há uma larga diferença: ela foi de US$ 18.004 para os homens em 2018 e de US$ 9.836 para as mulheres.

Duas exceções na América Latina são o Uruguai e a Venezuela, países em que o IDH feminino supera o masculino. Ainda assim, os ganhos das mulheres nesses países são muito menores que os dos homens. O que acontece nesses casos é que a diferença nos critérios de saúde e educação é tão grande que acaba compensando a discrepância na medida de renda.

No Uruguai, o rendimento masculino é de US$ 24.292 por ano e o feminino é de apenas US$ 14.901. A expectativa de vida ao nascer, no entanto, é de 74 anos entre os homens e de 81,4 entre as mulheres. Na Venezuela, a diferença de renda é ainda maior (73%), de US$ 11.546 para eles e US$ 6.655 para elas.

“As disparidades de gênero estão entre as formas mais arraigadas de desigualdade em todos os lugares. Como essas desvantagens afetam metade do mundo, a desigualdade de gênero é uma das maiores barreiras ao desenvolvimento humano”, avalia o Pnud no relatório.

Para a organização, essas discrepâncias são acentuadas “no poder que homens e mulheres exercem em casa, no local de trabalho ou na política”. Além disso, coloca a instituição, normas sociais e culturais promovem comportamentos que tendem a perpetuar as desigualdades ao longo do tempo.

No caso brasileiro, o Pnud destaca que só 15% dos assentos no Congresso Nacional são ocupados por mulheres, enquanto 61% das mulheres adultas atingiram pelo menos o nível secundário em educação - em comparação com 57,7% dos homens. Acrescenta ainda que o país com menor IDH do mundo tem mais mulheres com assento no Parlamento do que o Brasil: no Níger, o percentual é de 17%.

“Na questão de empoderamento das mulheres, o Brasil não vai tão bem. Um dos fatores levados em conta é a participação na força de trabalho, que ainda é bem menor”, observa Conceição. A participação feminina no mercado de trabalho é de 54%, comparada a 74,4% dos homens.