Valor Econômico, v. 20, n. 4896 07/12/2019. Brasil, p. A6

Brasil cai uma posição na lista do IDH e fica em 79º dentre 189 países

Mariana Ribeiro

 

O Brasil melhorou ligeiramente sua nota no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 2018, mas caiu uma posição no ranking global, ao passar da 78ª colocação na edição anterior para a 79ª no levantamento, feito em 189 países. A situação é bem pior quando considerada a desigualdade. Nesse caso, o país cai 23 posições, evidenciando que a disparidade no desenvolvimento permanece um desafio.

Os dados, divulgados nesta segunda-feira (9) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), mostram que, em 2018, o IDH brasileiro alcançou 0,761, alta de 0,001 em relação ao ano anterior.

A nota coloca o país no grupo de desenvolvimento humano alto, do qual fazem parte também países como Cuba, México, Colômbia e China.

O relatório do Pnud destaca que o Brasil apresenta crescimento contínuo nos resultados, mas pontua que houve um avanço mais acentuado de 1990 a 2013, com resultados menos expressivos a partir de então.

Divulgado anualmente, o IDH mede o desenvolvimento dos países com base em três dimensões: saúde (expectativa de vida ao nascer), educação (anos esperados de escolaridade e média de anos de estudo da população adulta) e renda nacional bruta per capita. A escala varia de zero a um. Quanto mais perto de um, maior o desenvolvimento do país.

Em 2018, o primeiro colocado no ranking global foi a Noruega, com IDH de 0,954. O país é seguido por Suíça (0,946) e Irlanda (0,942), considerados países de desenvolvimento humano muito alto. Os últimos colocados, por outro lado, são Chade (0,401), República Centro-Africana (0,381) e Níger (0,377). Na América do Sul, o Brasil e a Colômbia dividem a quarta posição.

O Chile ocupa a primeira, seguido por Argentina e Uruguai. De acordo com o Pnud, o IDH nacional está acima da média de 0,759 para países da América Latina e do Caribe. A média mundial é de 0,731.

Apesar da desaceleração no IDH brasileiro em 2018, o diretor do Escritório do Relatório de Índice de Desenvolvimento Humano do Pnud, Pedro Conceição, afirma que os resultados do país são “positivos, sólidos e sustentados”.

“O Brasil continua a fazer progressos, como tem feito nos últimos anos, apesar de em alguns desses anos a situação econômica ter ficado abaixo do esperado.”

De acordo com o relatório, de 1990 a 2018, a expectativa de vida ao nascer no Brasil cresceu 9,4 anos; a média de anos de estudo aumentou 4 anos; e os anos esperados de escolaridade subiram 3,2 anos.

O rendimento per capita, por sua vez, cresceu cerca de 39,5%. Nesses 28 anos, o IDH do país avançou 24%, superando as médias da América Latina e do Caribe e a global.

Betina Ferraz Barbosa, oficial do Pnud e chefe da unidade de desenvolvimento humano, acrescenta que, quanto mais alto o IDH de um local, mais difícil fica para ele sustentar os mesmos níveis de crescimento. “É normal que o ritmo se torne mais lento”, coloca.

A melhora tímida no IDH do país em 2018 é explicada principalmente pela estagnação no desempenho das variáveis de educação. No ano passado, o Brasil ficou estacionado tanto no quesito anos esperados de escolaridade (15,4 anos) quanto na média de anos de estudo (7,8 anos).

A expectativa de vida ao nascer, por outro lado, subiu de 75,5 anos em 2017 para 75,7 anos em 2018. A renda nacional bruta per capita também cresceu, ao passar de US$ 13.975 por ano para US$ 14.068. Esse valor ainda está, no entanto, abaixo do registrado em 2015, de US$ 14.490.

Betina destaca que, no caso brasileiro, o ponto de maior preocupação é a desigualdade, “mascarada” pelas médias.

“É a boa performance dos ricos que faz com que o IDH do país fique alto (…). Temos verdadeiras Noruegas aqui dentro, ilhas de prosperidade. Mas temos uma realidade muito díspar”, explica, destacando o peso das diferenças regionais no país.

Quando o IDH é ajustado à desigualdade, a nota do país recua para 0,574, uma perda de 24,5%. Com isso, o Brasil passa a se enquadrar na categoria de desenvolvimento humano médio.

Em relação ao ranking, despenca 23 posições na classificação geral. É o país que mais perde posições no mundo, seguido por Camarões.

Segundo o relatório, a parcela dos 10% mais ricos no país concentra 41,9% da renda total. Já a parcela do 1% mais ricos concentra 28,3%, segunda maior concentração de renda do mundo nesta parcela da população.

Na edição deste ano, o Pnud traz ainda um alerta em relação ao surgimento de uma nova geração de desigualdade. A avaliação da organização é de que, apesar dos ganhos mundialmente observados em saúde, educação e padrão de vida nas últimas décadas, as necessidades básicas permanecem não atendidas em algumas regiões. Ao mesmo tempo, ganha força um novo conjunto de desigualdades que podem acentuar as diferenças entre pobres e ricos. 

Para o Pnud, duas mudanças fundamentais moldarão o nosso século: as mudanças climáticas e as transformações tecnológicas. "A crise climática já está atingindo os mais pobres, enquanto os avanços tecnológicos, como 'machine learning' e inteligência artificial, podem deixar para trás grupos inteiros  de pessoas, até mesmo países" diz o texto.

Betina afirma que a situação é de " emergência global" e que só voltando as atenções para essas mudanças será possível evitar um aprofundamento das desigualdades no futuro.

"A situação é preocupante. No quesito tecnológico, o Brasil precisa pensar de que forma vai organizar a sociedade para que ela possa direcionar e capacitar a sua mão de obra instalada para setores que vão contribuir para o desenvolvimento da sociedade, setores que sejam capazes de absover essas mudanças. Senão, vamos ficar para trás."

Conceição acrescenta que o Pnud já pensa na inclusão de novas métricas, que possam refletir essas mudanças na realidade. " Uma possibilidade é tentar introduzir novas medidas, que tentem captar as mudanças.Tivemos imensos progressos econômicos e sociais nos últimos 30 anos, mas as próprias expectativas da sociedade mudam."