Valor Econômico, v. 20, n. 4896, 07/12/2019. Brasil, p. A4
 

Sob ameaça de SC, Rio deve recuar para 4º maior PIB per capita
Rodrigo Carro 

 

Estado com menor crescimento econômico acumulado nas últimas duas décadas, o Rio de Janeiro corre o risco de perder para Santa Catarina sua posição como terceiro maior PIB per capita do país. Embora os números oficiais estejam previstos para serem divulgados apenas no ano que vem, projeção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), indica que desde o ano passado os catarinenses já estão mais “ricos” do que os fluminenses pelo critério do Produto Interno Bruto por habitante.

Desde 2008, segundo a série histórica das contas regionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Rio de Janeiro ficava atrás apenas de Brasília e São Paulo nesse quesito, atualizado a preços de 2017. Em valores correntes, o PIB per capita catarinense vem se mantendo desde o início da série histórica atrás do fluminense. Estimativa da pesquisadora Juliana Trece, do Ibre/FGV, aponta para um PIB per capita de R$ 38.874 para o Rio de Janeiro em 2018, contra um valor de R$ 40.316 calculado para Santa Catarina.

“O que mais me chamou a atenção nessa análise é que o Rio de Janeiro tem o pior desempenho de PIB per capita entre 2002 e 2017, no conjunto de todos os Estados”, destaca Juliana.

O Estado do Rio perdeu terreno ranking nacional por causa do seu fraco desempenho econômico. Entre 2002 e 2017, a expansão acumulada pela economia fluminense foi de 23,3%, o menor percentual entre os 26 Estados e o Distrito Federal, também considerando os preços de 2017. No mesmo período de 16 anos, o PIB brasileiro avançou 42,5%, e o catarinense, 42,4%.

“Santa Catarina é o Estado em que o emprego industrial tem o maior peso na força de trabalho”, afirma o economista Mauro Osorio, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Tem uma estrutura produtiva densa, com pequenas, médias e grandes empresas.”

O PIB per capita do Rio cresceu 8,6% entre 2002 e 2017, enquanto o de Santa Catarina aumentou 12,5%. “Já considerando a estimativa de 2018, o crescimento no período 2002 a 2018 passa a ser de 5,2% para o Rio de Janeiro e 14,5% para Santa Catarina”, acrescenta Juliana Trece.

A menor vitalidade econômica do Rio em relação aos outros Estados se reflete na perda de posições em rankings de arrecadação tributária e emprego. Mauro Osorio destaca que desde de 2004 o governo de Minas Gerais arrecada mais ICMS do que o do Rio. Além disso, há mais empregos formais em Minas do que no Rio. “Em 1985, o Rio era o segundo Estado com maior número de empregos industriais. Agora é o sexto”, conclui o professor da UFRJ.

Economista da Tendências Consultoria, Camila Saito lembra que o Rio de Janeiro foi um dos Estados que mais sofreram nos últimos anos em termos econômicos. Não só por causa da recessão em nível nacional, mas também devido a intensas crises fiscais e políticas. A queda nos preços internacionais do petróleo entre 2015 e 2016, somada à desaleceração  dos investimentos da Petrobras no período, também contribuiu para a trajetória descendente do PIB per capita nos últimos anos. 

Pelos cálculos da Tendências, o Rio de Janeiro foi ultrapassado ainda em 2017 por Santa Catarina na lista dos maiores valores de PIB per capita do país. Naquele ano, o indicador ficou no patamar de R$ 39.373 para o Rio de Janeiro e de R$ 39.685 para Santa Catarina. O resultado - com base em preços de 2017 - empurrou o Rio de Janeiro para a quarta colocação.

A diferença entre os valores projetados pela Tendências e pela Fundação Getulio Vargas está relacionada às estimativas populacionais usadas nos cálculos. Enquanto o Ibre utilizou os dados de população residente enviados pelo IBGE ao Tribunal de Contas da União (TCU), a Tendências empregou uma estimativa do mesmo instituto revisada no ano passado.

Nem mesmo a variação populacional pode ser usada para justificar a retração no PIB por habitante registrada a partir de 2015 no Rio de Janeiro. Entre 2002 e 2017, a população catarinense cresceu quase o dobro em termos percentuais quando comparada à do Rio, de acordo com os dados usados pelo Ibre. A maior expansão populacional em Santa Catarina, no entanto, foi compensada por um crescimento mais vigoroso da economia local.

Juliana Trece adverte que, mantido o ritmo atual de expansão do PIB per capita fluminense, é provável que não só Santa Catarina, mas outros Estados ultrapassem o Rio de Janeiro “em poucos anos”. O Rio Grande do Sul, por exemplo, teve um PIB per capita estimado em R$ 38.138 para o ano passado (ante um valor projetado de R$ 38.874 para o Rio).

Apesar do recuo nos últimos anos, Camila Saito, da Tendências, enxerga ao menos um fator positivo capaz de favorecer o Estado do Rio no médio prazo. “Desde 2017 há muita coisa [na indústria do petróleo] entrando em operação no Estado. Isso já está causando impacto na produção. A arrecadação de royalties vem crescendo muito”, argumenta a economista.