Valor Econômico, v. 20, n. 4847 28/09/2019. Política, p. A12
 

Podemos disputa base bolsonarista
 Cristian Klein 

 

Ex-tucano, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) afirma que já estava acostumado, nos últimos 16 anos, a ser alvo de críticas da esquerda, mas agora precisa “preparar o lombo” para receber os ataques que chegam pela direita. Candidato à Presidência no ano passado, Dias é o principal líder do partido que mais cresce no Congresso e passou a incomodar  e passou a incomodar o bolsonarismo. Em tuíte na quarta-feira, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC) assina o recibo da preocupação: “É impressão minha ou esse tal de Podemos já faz bastante tempo quer tomar o lugar de um partido vermelho? A metamorfose não para um segundo! Façamos sempre as leituras!”.

Carlos comparou o Podemos ao PT, mas o temor é de perder um naco importante de sua base, a dos lavajatistas. No Senado, a legenda filiou, neste mês, a ex-juíza Selma Arruda (MT) - egressa do PSL de Bolsonaro; está prestes a se tornar a sigla de todos os três senadores do Paraná - origem da “República de Curitiba” da Lava-Jato -, com a chegada de Flávio Arns (Rede); e negocia a vinda de mais quatro parlamentares, o que pode fazer a agremiação superar a hegemonia do MDB na Casa. Com a filiação de Arns, a legenda terá crescido neste ano de cinco para 12 senadores.

Presidente nacional do partido, a deputada federal Renata Abreu diz que foi pega de surpresa pelo tuíte de Carlos. “Não esperava. E é até incoerente. O Podemos votou com o governo em todas as principais questões do país. Não houve uma agressão contra quem de fato está sempre lá com a faca no pescoço deles, que é o Centrão”, aponta. “Não tinha razão para uma agressão contra o partido. Ficou muito evidente que é uma insegurança”, rebate a dirigente, que também rejeita a insinuação de que o Podemos seria de esquerda. “É o único argumento que eles sabem usar. O que a gente tem de vermelho? Absolutamente nada”, afirma.

Alvaro Dias não sabe precisar que fato político teria detonado o tuíte de Carlos. Se é o interesse de parlamentares do PSL pelo Podemos ou se é o ativismo do partido, cuja principal bandeira, o combate à corrupção, passou a trombar com a articulação de Bolsonaro de se aproximar do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e de podar a Lava-Jato. “A operação está sob ameaça mais do que antes. Há uma espécie de conspiração dos três Poderes contra ela”, afirma Dias.

Dos 11 senadores do Podemos, apenas um - Oriovisto Guimarães (PR) - foi eleito pelo partido, no ano passado. Nos últimos dois anos, dez aportaram vindos das mais variadas siglas, de Romário (RJ), ex-PSB, e Alvaro Dias, ex-PSDB, aos representantes da onda de renovação de 2018, como Eduardo Girão (CE), ex-Pros, Styvenson Valentim (RN), ex-Rede, e Selma Arruda. Com parlamentares oriundos de tantas siglas diferentes, o Podemos, aparentemente, estaria ocupando o papel de “partido guarda-chuva” que um dia já foi do MDB. Renata Abreu, porém, evita a comparação. “É bem diferente. Eles agrupavam parlamentares para serem governo. O que aglutinava era a vontade de ser governo. Nós temos posiciona”, distingue.

Na mesma linha, Alvaro Dias afirma que o caminho do Podemos “é longe desse adesismo fácil, do fisiologismo”. O parlamentar também nega que o objetivo seja o de ultrapassar o MDB como maior bancada para cacifar sua candidatura à presidência do Senado. “Não discutimos isso. Seria um erro estratégico. Em vez de fortalecer, isso enfraquece”, diz. Renata Abreu afirma que a meta não é crescer a todo custo, e que a vinda de um senador até foi recusada porque ele era do mesmo Estado de um parlamentar com quem já está acertada a filiação quando se abrir a janela partidária para os deputados federais, em 2022. Mas a maré está tão boa, conta, que a tendência é realmente o Podemos ultrapassar  a bancada do MDB no Senado. “Hoje o clima é favorável”, diz.

Para Renata, a filiação do senador Major Olímpio (SP) - cuja situação no PSL ficou mais complicada depois de pedir a saída de Flávio Bolsonaro do partido - seria “o caminho natural”. A dirigente nega que haja um veto do presidente do diretório paulista, Mário Covas Neto, à entrada de Olímpio, o que poderia levar a uma disputa pelo comando estadual. “O partido está aberto para ele. O problema é se só estivessem os dois [em São Paulo]. Mas tem uma mulher no meio”, diz, aos risos.

Renata também tem reduto no Estado e controla o partido que já foi presidido pelo pai, José de Abreu, e pelo tio, Dorival de Abreu. Herdeira de uma legenda nanica, a deputada rebatizou o então PTN, em 2016, como Podemos e fez um trabalho de mudança de imagem e de estruturação partidária. Uma das razões para o crescimento do partido, em sua opinião, é a aposta numa estratégia que prioriza não só os cargos proporcionais - como faz a maioria das siglas - mas também os majoritários. O alto preço da candidatura de Alvaro Dias a presidente, diz, drenou recursos que poderiam bancar campanhas a deputado, mas a derrota eleitoral teria se transformado em vitória política: “Ganhamos o respeito”.

Com 11 deputados federais - apenas a 14ª maior bancada -, Renata afirma que também está avançando suas peças na Câmara, onde diz já ter fechado a filiação de sete parlamentares (entre os quais integrantes do PSDB, SD, PSL, PSB e PDT), a dois anos e meio da abertura da janela partidária. Consultor político do partido desde 2011, Fernando Vieira lembra que o Podemos abarcou o PHS, na última semana, e fará um trabalho de marketing para segurar os 38 prefeitos e 871 vereadores recém-chegados, já que a legislação, em casos de incorporação, permite que eles saiam sem perder o mandato.