Valor Econômico, v. 20, n. 4847 28/09/2019. Brasil, p. A8
 

Klabin, Malwee e Natura prometem cortar emissões
 Vanessa Adachi 

 

Três empresas brasileiras estão entre as 87 que assinaram um compromisso com o Pacto Global das Nações Unidas para cortar drasticamente as emissões de gases com efeito estufa até 2030. As fabricantes de papel e papelão Klabin, de roupas Malwee e de cosméticos Natura se juntaram a nomes como Danone, Nestlé, Salesforce e L’Oreal para adotar um plano um plano com metas estabelecidas com base em dados científicos e auditados de forma independente. A ideia por trás da campanha batizada de “Our Only Future” e lançada em junho é que cada empresa faça a sua parte para limitar o aquecimento global a 1,5° Celsius.

No início da Semana do Clima, em Nova York, o Pacto Global anunciou que 59 novas empresas haviam aderido ao compromisso, além das 28 companhias que já participavam no lançamento da iniciativa, em junho. O atual grupo de 87 empresas signatárias representa um valor em bolsa de US$ 2,3 trilhões.

Carlo Pereira, secretário-executivo da Rede Brasil do Pacto Global, diz que há negociações em curso com outras empresas brasileiras. Segundo ele, a grande dificuldade é justamente o compromisso público com metas concretas e científicas de corte das emissões que essas empresas têm que assumir.

Na quarta, a Rede Brasil do Pacto Global lançou a campanha #aceiteessacaneta, um convite para que mais empresas assinem o compromisso. Segundo Carlo Pereira, a ambição da Rede Brasil é ter adesões suficientes para lançar uma nova etapa da campanha, batizada de “Juntos pelo planeta”, em que empresas concorrentes num mesmo setor apareçam lado a lado.

Os critérios para criar as metas são definidos pela Science Based Target Initiative (SBTi). Uma vez que a empresa assine o compromisso, tem um prazo de 24 meses para apresentar ao SBTi um plano com metas e ações específicas para alcançá-las. O SBTi faz uma auditoria para aprovar ou não o plano.

A Klabin, que assinou o compromisso há duas semanas, está em processo de contratação de consultorias que a auxiliarão na definição das metas seguindo os critérios do SBTi. “Tomamos a decisão de definir metas com base na ciência ainda no primeiro semestre, para aprimorar um trabalho que já fazemos há muito tempo no grupo. Quando o Pacto Global lançou o movimento, validou a nossa ideia”, diz Júlio Nogueira, gerente de sustentabilidade da Klabin. Nos últimos 16 anos, a Klabin reduziu em 61% suas emissões de gases com efeito estufa - somadas emissões diretas e aquelas relativas à compra de energia. Atualmente, 89% da energia consumida pela empresa em suas 18 fábricas é de fonte renovável, com destaque para uso de biomassa.

As empresas que assinam o compromisso têm a opção de se comprometer a zerar as emissões até 2050. “No nosso caso, não pensamos em zerar porque é algo distante da realidade do nosso negócio. Mas pretendemos reduzir, limpar a matriz e ser cada vez mais eficientes energeticamente.”

Na Natura & Co, que inclui Natura, The Body Shop, Avon e Aesop e foi uma das primeiras empresas a assinar o compromisso, em junho, tudo caminha para que a empresa estabeleça como meta zerar todas as suas emissões. “O grupo quer ser carbono zero até 2030”, diz Denise Hills, diretora global de sustentabilidade da Natura. “Temos dois anos para construir o desenho de como podemos chegar lá e a companhia está movendo meio mundo para ver como consegue isso.” Hoje a Natura é neutra em carbono na operação brasileira, o que lhe rendeu um prêmio concedido na semana passada pela ONU a 15 projetos no mundo todo. Isso quer dizer que atualmente  as emissões são totalmente compensadas, por exemplo, com iniciativas de reflorestamento.

Mas o próximo passo, explica a diretora, é eliminar as emissões e, quem sabe, até gerar créditos em sua cadeia. “Hoje ainda não conseguimos. Há tecnologias sendo criadas, mas ainda não na escala necessária.” Ela cita a energia limpa como uma das tecnologias escaláveis atualmente.

Guilherme Weege, CEO da Malwee, diz que a empresa não teve dificuldades em assumir o compromisso. “Para nós, é algo natural. A proposta do compromisso chegou em minha mesa e uma semana depois estava assinado”, diz.

Em 2015 a empresa fixou uma meta de reduzir em 20% as emissões de carbono até 2020 e bem antes do prazo, em 2017, já havia atingido redução de 68%. De lá para cá, houve redução adicional de 12%. “Trocamos a nossa fonte energética. Deixamos de usar gás natural e adotamos biomassa. Também trocamos mais de 30 mil lâmpadas antigas por LED em nossas fábricas, escritórios e lojas”, conta Weege.

Ele cita dados do grande impacto negativo do setor têxtil sobre o ambiente para dizer que quer influenciar outras empresas do setor a seguir pelo mesmo caminho. “Das emissões de carbono do mundo, 10% vêm do setor têxtil. O setor também responde por 20% do consumo de químicos do mundo e por 20% da poluição industrial da água. É muito forte.” Os números são da plataforma independente Sustain your Style.

Transformar a operação na direção da sustentabilidade não veio sem custos. Ele estima entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões os investimentos feitos até hoje em projetos variados. Um dos mais recentes, com custo de R$ 6 milhões, consiste na importação de uma máquina da Espanha que possibilitará à empresa colorir e dar textura às  calças jeans sem o uso de água. “Hoje, usamos cem litros de água por calça só para chegar à cor desejada. Passaremos a gastar 200 mililitros, porque a máquina usa laser e ozônio nos processos.”