O Globo, n. 32672, 19/01/2023. Brasil, p. 12

Desmatamento na Amazônia em 2022 foi o maior em 15 anos

Cleide Carvalho


A Amazônia perdeu 10.573 km² de floresta em 2022, o equivalente a 3 mil campos de futebol por dia. Foi a maior destruição registrada nos 15 anos de levantamento por satélite feito pelo instituto Imazon. A série mostra que nos quatro anos do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro foram desmatados 35.193 km², área superior à de todo o estado de Alagoas e 150% maior do que a devastada nos quatro anos anteriores. Dezembro, último mês do governo, foi o mês que teve a maior alta do ano na derrubada, com perda florestal de 287 km², um aumento de 105% em relação ao mesmo mês de 2021.

Carlos Souza Jr., coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon, afirma que no último mês do ano houve corrida desenfreada para desmatar, aproveitando que a "porteira estava aberta para a boiada, para a especulação fundiária, para os garimpos ilegais e para o desmatamento em terras indígenas e unidades de conservação".

- Isso mostra o tamanho do desafio do novo governo - afirma.

O estado que mais desmatou em 2022 foi o Pará, com 37% do total (3.874 km²), seguido pelo Amazonas, com 24% (2.575 km²), e Mato Grosso, com 15% (1.604).

Indicado como sede da COP 30, a conferência climática das Nações Unidas, em 2025, o Pará mais que quintuplicou o desmatamento a partir de 2017. Naquele ano, foram desmatados 528 km². Nos anos seguintes o desmatamento foi crescente. Foi de 1.378 km² em 2018, superou os 2.000 km² nos dois anos seguintes e, em 2021 e 2022, ficou acima de 3.000 km².

De 2018 a 2022 foram destruídos 12.579 km² de florestas no estado.

No total da Amazônia, 80% da área desmatada em 2022 eram federais. Mas os números mostram que os governos estaduais também deixaram a devastação crescer. Nos territórios estaduais, houve no ano passado um aumento de 11% no desmatamento em relação a 2021.

O Imazon ressalta que o caso mais grave em 2022 foi o do Amazonas, onde o desmatamento alcançou o Sul do estado, numa área na divisa com Acre e Rondônia, onde, à margem da lei, se forma um novo polo de produção agropecuária. É nela que fica Apuí, o município que mais desmatou em toda a Amazônia em 2022, com a destruição de 586 km².

Bianca Santos, pesquisadora do Imazon, lembra que os recordes mensais observados já apontavam para a gigantesca destruição da floresta, que avançou para áreas que antes estavam mais distantes do chamado Arco do Desmatamento.

- O desmatamento se aproximou de áreas protegidas - afirma Bianca.

A pesquisadora cita como exemplo o Pará, onde o desmatamento avançou para o Norte do estado, onde fica um bloco de áreas protegidas. É ali que está a Floresta Estadual do Paru, que abriga a maior árvore da América Latina e quarta maior do mundo, um angelim-vermelho de 400 anos de idade, com 88,5 metros de altura e quase 10 metros de circunferência. O tamanho da árvore equivale a um prédio de 30 andares.

Bianca afirma que houve aceleração do desmatamento após a eleição presidencial e que o Imazon espera que o recorde de 2022 tenha sido o último registrado por seu sistema de satélites. Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostraram aumento de 150% no desmatamento da região em dezembro passado.

- Esperamos que as medidas anunciadas sejam efetivas para conter o desmatamento, como a volta da demarcação de terras indígenas, a reestruturação dos órgãos de fiscalização e incentivos para geração de renda na Amazônia com a floresta em pé -- diz Bianca.

A tecnologia de monitoramento já ajuda inclusive a mapear novos riscos. O instituto, em parceria com Microsoft e Fundo Vale, lançou uma plataforma de inteligência artificial que aponta as áreas de maior risco de desmatamento, o que pode ajudar na prevenção.