Correio Braziliense, n. 21718, 02/09/2022. Política, p. 5

PF e CGU de olho no vice de Castro

João Gabriel Freitas


O candidato a vice-governador na chapa de Cláudio Castro (PL), Washington Reis (MDB), foi alvo, ontem, de uma ação conjunta da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU). A Operação Anáfora apura o suposto favorecimento na contratação de uma cooperativa de trabalho pela Secretaria de Saúde da prefeitura de Duque de Caxias, da qual esteve à frente até 1º de abril — os contratos suspeitos superam R$ 560 milhões.

Outro investigado é o empresário Mário Peixoto, denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) após a Operação Favorito, de maio de 2020. Ele é apontado pela Justiça como beneficiário no esquema de corrupção do governo Wilson Witzel — que sofreu impeachment com pouco mais de um ano de governo.

Iniciada em janeiro passado, a investigação apurou que a cooperativa que fechou contrato com o município da Baixada Fluminense pertence a uma organização “estruturada e complexa”, que opera há décadas no sistema de corrupção pública. Segundo as autoridades, os desvios ultrapassam meio bilhão de reais em pouco mais de dois anos.

De acordo com a CGU, a investigação observou fatos que apontam o favorecimento da cooperativa nos contratos da Secretaria de Saúde de Caxias. Uma das irregularidades constatadas foi a opção por leilões presenciais em vez de processos on-line, o que privilegiaria empresas locais em detrimento de concorrentes com os melhores preços. A Controladoria da União ainda detectou a falta de clareza na definição dos serviços e quantitativos, além do descumprimento de cláusulas em editais.

Um dos contratos analisados pela CGU recebeu R$ 414 milhões, entre março de 2020 e março de 2022, sendo R$ 142,8 milhões de recursos federais transferidos para a saúde municipal. A Controladoria da União não divulgou quais crimes estão supostamente ligados à Washington Reis.

O vice da chapa à reeleição ao governo fluminense disse, por meio de nota, que está “à disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários”. Já Cláudio Castro manifestou-se afirmando que “respeita o trabalho da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) e aguarda os desdobramentos da operação”.

A ação conjunta da PF e da CGU aumentou a pressão para troca de vice na chapa de Castro. Isso porque, nesta semana, o Supremo Tribunal Federal (STF) manteve uma condenação de Washington Reis por crime ambiental e loteamento irregular. Como agravante, o Ministério Público Eleitoral defende que ele fique inelegível, mas o ex-prefeito de Caxias deve apresentar um novo recurso e crê, assim, na absolvição e na elegibilidade.

As principais reações pela saída de Reis da chapa de Castro partiram do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e do pastor Silas Malafaia, cabo eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (PL) junto à comunidade neopentecostal — para lideranças evangélicas que apoiam a reeleição do governador, a presença do ex-prefeito de Caxias seria um ponto vulnerável para a campanha de Castro.

 

*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi

 

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