Correio Braziliense, n. 21718, 02/09/2022. Política, p. 4

Machismo é mera “narrativa” 

Ingrid Soares
Taísa Medeiros


O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, ontem, tratar-se de “uma narrativa” seu alto índice de rejeição entre as eleitoras mulheres. A declaração foi na sabatina realizada pela RedeTV!, a primeira de uma série de entrevistas com os presidenciáveis mais bem colocados na corrida eleitoral.

“É uma narrativa. Como se eu não gostasse de mulheres, trago as mulheres com carinho e consideração. Por parte do governo, são mais de 60 projetos sancionados por nós, decretos, tudo visando à mulher”, garantiu. Mas levantamento do Ipec, divulgado dia 29, aponta que Bolsonaro enfrenta rejeição em metade do público feminino (50%), enquanto 32% não querem o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

Só que, na live de ontem pelas redes sociais, o presidente também tentou acenar às mulheres e recorreu a mais uma imagem machista para comentar as ações do governo na área de segurança pública. “Notícia boa para mulher é beijinho, rosa, presentes e férias”, ironizou.

Na entrevista à emissora, quando questionado sobre possíveis erros cometidos na gestão da pandemia de covid-19, negou ter se equivocado e voltou a dizer que as medidas tomadas pelo Brasil foram “exemplares” para o restante do mundo. Só que, também ontem, ele foi condenado pelo Tribunal Permanente dos Povos (TPP) por crimes contra a humanidade cometidos durante a pandemia — o Brasil registra, desde 2020, mais de 684 mil mortos. Segundo a entidade, que não tem caráter jurídico, entendeu que a adoção de uma condução diferente da crise sanitária teria salvo a vida de, pelo menos, 100 mil pessoas.

Bolsonaro também voltou a criticar os métodos educacionais do filósofo e pensador brasileiro Paulo Freire — cujos princípios, segundo o presidente, levaram a “uma fábrica de militantes em todo o Brasil”. Sobre propostas para a educação, disse que serão feitas aos poucos e acusou os livros escolares dos governos anteriores de pregarem “ideologia de gênero” e ensinarem “as crianças a fazerem sexo”.

O presidente novamente defendeu as pautas ideológicas, apontando que seu governo “não admite sequer discutir a questão de legalizar o aborto”. “Nosso governo também não quer discutir a legalização das drogas. Quem age dessa maneira não sabe a dor de uma mulher, de uma mãe que tem um filho no mundo das drogas”, afirmou.

Ele fez questão de destacar a continuidade do Auxílio Brasil de R$ 600 em 2023, caso reeleito. “O Paulo Guedes me disse que estão garatidos os R$ 600 a partir do ano que vem porque nós vamos taxar lucro e dividendo para quem ganha acima de R$ 400 mil por mês. Tenho certeza de que o Congresso vai colaborar conosco. Você pode tornar definitivo os R$ 600 e, mais ainda, pode fazer uma correção na tabela de imposto de renda”, apontou.

Na live, o presidente também abordou o assunto e defendeu que para custear o valor pode haver a renovação do estado de emergência, em 2023. “De onde virá os R$ 200 extras para pagar os R$ 600? De dois possíveis lugares. Um: se a guerra (entre Rússia e Ucrânia) continuar lá fora, continuamos em emergência aqui. A outra forma é a taxação de lucros e dividendos para quem ganha mais de R$ 400 mil por mês. O pessoal paga um imposto bem pequeno. O certo seria pagar 27% disso tudo. A proposta da equipe econômica é de 15% e, com essa taxação, é possível corrigir a tabela do Imposto de Renda”, destacou.