Valor Econômico, v. 20, n. 4844 25/09/2019. Política, p. A8
 

Governo quer reforma tributária aprovada em 2020
 Gabriel Vasconcelos 

 

O vice-presidente, Hamilton Mourão, afirmou, ontem, que a posição do governo federal sobre a reforma tributária prevê conciliar as duas propostas hoje em tramitação no Congresso, e disse esperar sua aprovação pelo Legislativo até o fim do primeiro semestre de 2020. A afirmação foi feita em palestra para sócios do Clube Militar, no Rio de Janeiro. Mourão exerce a Presidência da República na viagem de Jair Bolsonaro a Nova York, nos Estados Unidos, para a Assembleia das Nações Unidas (ONU).

“A decisão que se encaminha é casar as duas propostas, da Câmara e do Senado. Vamos ver se, na pior hipótese, essa reforma se concretiza até o fim do primeiro semestre do ano que vem”, disse. “Junto com a Previdência, serão duas vitórias inimagináveis.”

O vice afirmou que os dois principais objetivos do Planalto são promover a simplificação do sistema e alargar a base de contribuição. Embora tenha dito que considera excessiva a carga tributária de 33% para um país como o Brasil e que “isso deveria estar na faixa de 25%”, Mourão não falou em reduzir impostos. O vice ressaltou que pagar e recolher impostos custa R$ 70 bilhões por ano ao governo e empresas, e que há uma evasão estimada em R$ 400 bilhões anuais, montante que “poderia ser cortado pela metade” após a reforma.

Mourão também falou em controlar o ego dos parlamentares para chegar ao melhor resultado, e sugeriu que a nova condução da reforma pelo governo se pauta pela exclusão da discussão de uma nova Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). “Havia uma ideia do ex-secretário Marcos Cintra e do ministro [da Economia] Paulo Guedes, entusiastas do imposto sobre transação financeiras, porque pegaria a turma do Netflix, do Uber. Mas aí tem aquela história de que é regressivo e o presidente deu um ippon [golpe de judô] nisso aí”, disse.

Na explanação a uma maioria de reservistas, Mourão elogiou mais de uma vez o discurso de Bolsonaro na ONU, definido como “altivo e patriótico”. “O presidente foi incisivo, explícito, direto e soberano. A Amazônia não é o pulmão do mundo, não é patrimônio da humanidade, é patrimônio nosso”, disse. Ao falar de segurança pública, o vice atribuiu a morte da menina Ágatha Félix a “narcoguerrilhas que enfrentam o Estado” e voltou a reclamar de quem atribui o crime a policiais. “Parcela da opinião pública, liderada por quem tem pensamento atrasado, coloca a polícia sempre como inimigo e o bandido como o glamuroso defensor da liberdade”, afirmou.