Valor Econômico, v. 20, n. 4838 17/09/2019. Política, p. A8
 

Bolsonaro tem alta, contradiz médicos e diz que reassume hoje a Presidência
 André Guilherme Vieira
 Dimitrius Dantas
 Fábio Murakawa 


 

O presidente Jair Bolsonaro teve alta médica e deixou às 15h de ontem o hospital Vila Nova Star, na zona Sul de São Paulo, onde estava internado desde 7 de setembro. Ele foi submetido à cirurgia para correção de uma hérnia incisional no dia 8.

O presidente voltou à Brasília, mas só retomará o cargo na quinta-feira, segundo sua equipe médica. Até lá, o vice Hamilton Mourão deverá continuar como presidente em exercício.

Mas ao chegar em Brasília, Bolsonaro contradisse as informações divulgadas por seus médicos.

“[Hoje] Amanhã eu reassumo”, disse a jornalistas que o aguardavam na frente da residência oficial.

“Sanciono [ao assumir] a lei do porte estendido para o pessoal do campo”, afirmou, referindo-se à lei aprovada em 21 de agosto pela Câmara e que estende a posse de arma, e não apenas o porte, para toda propriedade rural. O prazo para sanção dessa lei se esgota hoje.

“Não vi o projeto, vou ver [hoje] amanhã. Eu não vou tolher ninguém de bem de ter a sua posse ou porte de arma de fogo”, disse.

Bolsonaro não esclareceu se vai despachar no Palácio da Alvorada até a viagem a Nova York para a Assembleia Geral das Nações Unidas, marcada para o dia 23. Mas afirmou que não estará plenamente recuperado para cumprir agendas presidenciais antes disso.

“Cem por cento depois dos Estados Unidos”, disse o presidente.

O governo decidiu adiar em um dia a viagem para Nova York, onde o presidente fará o discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. O planejamento anterior previa que a viagem ocorresse no dia 22.

Na sexta-feira, Bolsonaro será novamente avaliado pela equipe do cirurgião gastroenterologista Antônio Luiz Macedo, na unidade do hospital em Brasília.

Na opinião do médico, não deverá haver limitação para a viagem e o discurso do presidente nos Estados Unidos. Entretanto, permanece a recomendação para que Bolsonaro não faça muito esforço e não fale excessivamente.

A viagem à Nova York será a primeira aparição de Bolsonaro no exterior desde a crise deflagrada com França e Alemanha em razão de declarações sobre as queimadas na Amazônia.

O discurso a ser feito na ONU está sendo elaborado pelo presidente e seus auxiliares desde que Bolsonaro foi internado, segundo o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros.

“O discurso está sendo promovido a várias mãos e o presidente tem sinalizado os tópicos frasais a serem abordados. Mas o discurso só estará encerrado quando o presidente se debruçar sobre ele”, afirmou.

Nova York não será o único destino de Bolsonaro. Juntamente com seu filho Eduardo Bolsonaro - que deve ser indicado pelo pai para o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos -, o presidente manterá reunião com empresários da área militar no Texas.

Segundo o porta-voz da Presidência, o encontro pode significar uma aproximação para estabelece diágolo comercial entre os países. 

À noite, em entrevista gravada para o “Jornal da Record”, o presidente falou sobre a polêmica causada por declaração a respeito da democracia feita pelo filho Carlos em rede social. Na opinião de Bolsonaro, o vereador teve razão em sua afirmação, mas teria se equivocado ao se queixar de uma suposta lentidão nas mudanças. Segundo o presidente, as mudanças estão sendo rápidas na gestão dele.

Bolsonaro criticou a CPMF, que qualificou de “imposto contaminado” e disse que o governo não deve insistir na sua recriação.

Quanto à nomeação do novo secretário da Receita Federal, o presidente defendeu que um quadro interno seja escolhido para ocupar o cargo.

Para finalizar, Bolsonaro garantiu que sente-se bem e que pretende voltar a trabalhar plenamente, em breve.