Correio Braziliense, n. 21711, 26/08/2022. Cidades, p. 13

Parente desiste e turbina candidatura de Grass

Ana Isabel Mansur
Arthur de Souza


A 37 dias da decisão nas urnas, as eleições no Distrito Federal tomaram novos rumos. Em busca de chegar ao segundo turno e enfrentar o atual governador Ibaneis Rocha (MDB), as candidaturas de Rafael Parente (PSB) e Leandro Grass (PV) se uniram. O socialista abriu mão da disputa, ontem, para apoiar o político do PV. As conversas sobre uma possível união entre os dois vinham ocorrendo desde o período de pré-campanha e tomaram força após a entrada de Paulo Octávio (PSD) na corrida eleitoral e os resultados da pesquisa Correio/Opinião, divulgada na terça-feira.

De acordo com o levantamento, Grass tem 5,6% das intenções de voto, contra 2,3% de Parente. Ibaneis lidera o levantamento, com 38,6%, seguido por Paulo Octávio, que acumulou 11,2%. Apesar do cenário, a candidata do PSol-Rede, Keka Bagno, que tem 2% nas pesquisas, afirmou à reportagem que segue firme na disputa. “As pesquisas até aqui mostram um empate técnico entre as candidaturas ao GDF que estão com Lula, o que nos faz ter certeza de que chegaremos bem ao segundo turno e derrotaremos Ibaneis Rocha”, ressalta.

A ideia dos políticos — que integram, junto a Keka é evitar um segundo turno entre Ibaneis e PO. O deputado distrital Leandro Grass é, entre os três, quem tem mais chances de chegar à segunda fase do pleito, em 26 de outubro.

No discurso de renúncia, Parente destacou o fato de Grass estar à frente dele nas pesquisas. O agora ex-candidato também acrescentou que o apoio à campanha do distrital acontece para evitar um possível “segundo turno catastrófico”. “Temos (na liderança das pesquisas) um candidato (Ibaneis) que tem 15 casos de suspeita de corrupção em seu governo, e outro que foi e continua envolvido em vários problemas (Paulo Octávio)”, frisa. “Vivemos, tanto no DF quanto no Brasil, tempos sombrios, de crise na democracia e projetos fascistas”, diz Parente.

Segundo o ex-secretário de Educação do DF, também pesou na decisão o apoio do ex-presidente Lula a Grass, mesmo que Parente seja do mesmo partido de Geraldo Alckmin, vice do petista na chapa ao Palácio do Planalto. “Ficou bastante claro que o apoio nacional está fazendo a diferença aqui. O nome do Leandro está mais forte do que o meu, e a militância do PT está fazendo a diferença para isso”, afirma. Parente destaca, ainda, a priorização do pragmatismo durante as tratativas. “(À época), eu disse que a gente precisaria olhar sempre as pesquisas, precisaria de união e tentar entender como nós poderíamos combater, da melhor forma possível, o inimigo que está do outro lado, não entre a gente”, observa.

Após a desistência, a candidata a vice-governadora na chapa do PSB, professora Janaina Almeida (PSB), não tentará nenhum cargo político nas eleições de outubro. Ao Correio, ela disse que voltará a ser educadora da rede pública de ensino a partir de janeiro de 2023. “Neste ano, quero dedicar meu tempo às campanhas de mulheres e negros que eu acredito. Também preciso ajudar o Lula a chegar lá (na Presidência) e a tirar o Ibaneis do governo. Não vou descansar e perder nenhum dia.”

 

Coordenação

Durante o anúncio, Leandro Grass convidou Rafael Parente para fazer parte da coordenação de sua campanha ao Palácio do Buriti. “Ressalto o convite para (Rafael) integrar a coordenação de campanha, para que essa campanha saia, de fato, como vencedora nas urnas”, comenta o distrital. Ao Correio, Parente confirmou que aceitou a proposta e fará parte da equipe de Grass.

Logo após os discursos, o candidato do PV concedeu entrevista e disse estar muito animado para o início da propaganda eleitoral gratuita na TV. “Nós vamos trazer mensagens de esperança, propostas concretas, mostrando para o DF aquilo que a gente quer e tanto sonha”, detalha o distrital, que também comenta sobre o que a adesão do PSB adere a sua campanha. “Significa comunhão democrática e progressista aqui no DF. Nós já estávamos caminhando juntos a nível nacional, com Lula e Alckmin, e agora faremos o mesmo por aqui”, reforça. “O PSB tem experiência, inclusive no governo do DF, além de ter uma militância muito corajosa, aguerrida e criativa, e tem Rafael Parente, que se junta a nós nesse protagonismo e construção. Sem dúvida, vai fazer uma grande diferença”, garante Grass.

Questionado sobre ter caído nas pesquisas, comparando os meses de julho e agosto, o candidato do PV afirmou que essas variações estão dentro da margem de erro e que a federação não está preocupada. “A campanha começou agora, nesta semana. É nesse momento que a população vai conhecer os candidatos e as suas propostas”, frisa. “Temos a expectativa de que, com o programa de tevê e com a intensidade que a imprensa vai dando para a campanha eleitoral, as pessoas possam perceber a diferença do nosso projeto e o do atual”, acrescenta. “A gente acredita que, na medida que a campanha for acontecendo, o nosso crescimento será natural”, completa.

No entanto, a migração dos eleitores de Parente para Grass não será automática e pode, inclusive, ajudar Ibaneis a somar mais votos, conforme avaliação de Alexandre Garcia, CEO do grupo Opinião. “O eleitor do Rafael Parente é mais de centro-esquerda, enquanto o de Grass é de esquerda. Parente tem mais mulheres entre seus eleitores que Grass e maior penetração na faixa etária de 35 a 44 anos, ao passo que Grass se concentra nas faixas mais jovens. Ou seja, parte dos votos pode ir para Paulo Octávio, Izalci e Ibaneis. Complicado afirmar, mas, muito provavelmente, (os votos) não migrariam totalmente para Grass.”

 

Decisão corajosa

Estiveram presentes no anúncio, o presidente local do PSB e candidato a deputado distrital, Rodrigo Dias, e a parlamentar da Câmara Legislativa Arlete Sampaio (PT). De acordo com o comandante do PSB-DF, a escolha pela renúncia da candidatura de Rafael Parente aconteceu após uma análise do cenário político atual. “Notamos que a fragmentação do campo progressista poderia possibilitar que duas candidaturas, que não fazem parte do nosso campo político e que avaliamos com grande retrocesso para a cidade, pudessem ir para o segundo turno”, enfatiza.

Para Rodrigo, esse teria sido o momento de reavaliação das estratégias. “Vimos que era necessário unir forças do campo progressista, para conseguir trazer uma candidatura competitiva para o segundo turno e para vencer as eleições do Ibaneis”, destacou. Sobre a escolha de apoiar Leandro Grass, o presidente do PSB-DF afirma que ela ocorreu por ser o campo político que o PSB mais se aproxima, a nível nacional e local. “A gente avalia que a somatória do potencial eleitoral do Parente, que já aparecia bem nas pesquisas, com a do Leandro Grass, possibilita que a gente chegue bem no segundo turno”, concluiu o candidato a distrital.

A deputada Arlete Sampaio, em entrevista ao Correio, disse que o anúncio ocorrido ontem foi um momento extremamente significativo para o processo eleitoral do DF e parabenizou a “corajosa e responsável decisão do Rafael Parente de retirar sua candidatura e apoiar o Leandro Grass”. Para a parlamentar, isso engrandece o PSB, assim como a campanha da federação local — do PT-PCdoB-PV. “Saio daqui muito feliz e muito orgulhosa da decisão que o PSB tomou”, comentou. Colaboraram Ana Maria Campos e Pablo Giovanni, estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira