Valor Econômico, v. 20, n. 4836 13/09/2019. Política, p. A13

Aras relata que sinalizou limites ao conhecer Bolsonaro

Renan Truffi 
Isadora Peron 


 

Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro ao cargo de procurador-geral da República, Augusto Aras deve enfrentar resistência da ala “lavajatista” do Senado. A avaliação é de interlocutores do subprocurador, que têm acompanhado o périplo dele pelos gabinetes dos parlamentares.

Os senadores Alvaro Dias (Podemos-PR), Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Juíza Selma (PSL-MT), chamada de “Moro de saias”, em referência ao ministro Sergio Moro, ex-juiz da Lava-Jato, são apontados como os nomes que devem demonstrar mais resistência a Aras, que precisa do aval da maioria do Senado para chegar ao comando da PGR.

Uma das críticas feitas por esse grupo é que o subprocurador-geral teria uma postura excessivamente política. Passou má impressão, por exemplo, o fato de ele ter ido a um jantar oferecido pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), réu no Supremo Tribunal Federal (STF).  O grupo também torceu o nariz para a sinalização de que o nome de Aras deve contar com o apoio de senadores do PT e de outros partidos da oposição para ser aprovado no Senado.

Ontem, Aras decidiu fazer uma visita a Vieira, conhecido por ser autor dos sucessivos pedidos de instalação da chamada CPI da Lava-Toga, para investigar supostas irregularidades cometidas por ministros do Supremo. “Ele [Aras] é um cidadão profundamente político. Muito mais político do que procurador. Muito focado em agradar e construir um discurso que funcione para alguém em específico”, disse o senador.

Vieira também criticou o fato de Aras ter defendido uma subordinação hierárquica entre procuradores do MPF. Na visão do parlamentar, esse entendimento contraria a independência das forças-tarefa, em especial a força-tarefa da Lava-Jato. “Ele tem um entendimento, e verbalizou isso objetivamente, de que deve existir uma hierarquia, uma subordinação hierárquica entre procuradores.” Durante a conversa, Aras também disse, no entanto, ter alertado o presidente Jair Bolsonaro de que ele não poderá “mandar e desmandar”. "Tive o primeiro contato com o presidente da República através de um amigo de muitos anos e, nesse mesmo primeiro contato, eu disse ao presidente exatamente isso: 'presidente, o senhor não pode errar (...) porque o Ministério Público, o procurador-geral da República, tem as garantias constitucionais que o senhor não vai poder mandar, desmandar ou admitir sua expressão, ter a liberdade de expressão para acolher ou desacolher qualquer manifestação, mas o senhor não vai poder mudar o que for feito'", afirmou Aras enquanto a “TV Globo” filmava o início do encontro entre os dois no Senado. 

Além disso, após a reunião, Aras afirmou à imprensa que o país não espera do Ministério Público apenas o combate à corrupção, mas também o “destravamento da economia”. “Tenho conversado com os senadores sobre nosso pensamento acerca de um Ministério Público moderno, capaz de atender às necessidades de um Brasil novo, um Brasil que exige não somente o combate à corrupção, mas também exige o destravamento da economia”, disse.