Correio Braziliense, n. 21706, 21/08/2022. Política, p. 5

Bolsonaro diz que aceitará urnas

Victor Correia
Raphael Felice


No primeiro fim de semana após o início oficial das campanhas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve mais moderado que de costume e afirmou que respeitará o resultado das urnas eletrônicas caso seja derrotado. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, retrucou as ofensivas recentes do adversário junto ao segmento evangélico, afirmando que “tem gente usando a igreja como palanque político”. Os dois lideram a corrida eleitoral até o momento.

Bolsonaro recuou nos ataques ao sistema eleitoral brasileiro e afirmou que vai respeitar o resultado das urnas. A declaração foi registrada em vídeo publicado nas redes sociais, no qual o presidente acenou por cerca de uma hora para apoiadores que passavam em uma motociata na Rodovia Presidente Dutra — que liga Rio de Janeiro a São Paulo —, na altura do município de Resende (RJ).

Após centenas de motos passarem, o mandatário seguiu às margens da via para acenar para motoristas e caminhoneiros. “Passaram mil motos em apoio a gente. Ficamos muito felizes com essa manifestação espontânea por parte da população (motociata). A gente está nessa empreitada buscando a reeleição, se esse for o entendimento. Caso contrário, a gente respeita. Nossa democracia, nossa liberdade acima de tudo”, disse o chefe do Poder Executivo. Bolsonaro costuma atacar as urnas eletrônicas levantando dúvidas sobre a confiabilidade do sistema, mesmo sem nenhuma  evidência de falhas.

O presidente foi a Resende para participar da formatura dos oficiais da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Ele estava acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), além dos ministros Augusto Heleno, Anderson Torres, Luiz Eduardo Ramos, do ex-ministro da Saúde e candidato a deputado federal Eduardo Pazuello, do assessor especial, Vicente Santini, do ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet e do vice-presidente, Hamilton Mourão.

A motociata em apoio a Bolsonaro partiu do município fluminense de Barra Mansa. Desta vez, Bolsonaro não participou pilotando uma moto, como costuma fazer.

 

Estado laico

Lula, por sua vez, discursou em comício no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Em sua fala, o candidato atacou as ofensivas recentes de Bolsonaro junto aos evangélicos, incluindo a divulgação de notícias falsas. “Tem muitas fakes news religiosas correndo por esse mundo; tem demônio sendo chamado de Deus e gente honesta sendo chamada de demônio. Tem gente usando igreja como palanque político”, afirmou Lula. “Quando quero conversar com Deus, não preciso de padre ou pastor.”

Apoiadores de Jair Bolsonaro vêm circulando notícias falsas em relação ao ex-presidente. Uma delas diz que o petista planeja, caso eleito, fechar todas as igrejas evangélicas. A ofensiva é vista com preocupação pela campanha de Lula, já que Bolsonaro lidera com margem considerável as intenções de voto entre os evangélicos. Além disso, o atual presidente e sua esposa, Michelle Bolsonaro, radicalizaram nas últimas semanas o discurso entre os religiosos.

“Eu defendo o estado laico. Igrejas não têm de ter partido político, têm de cuidar da fé”, disse o ex-presidente. “Não deixem passar nenhuma mentira, não aceitem provocação na rua. Se pastor tiver mentindo, a gente tem de enfrentar.”

 

Ciro e Tebet

O candidato do PDT, Ciro Gomes, fez campanha na manhã de ontem em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro. Ciro fez uma caminhada pelo comércio local e criticou a situação econômica: “O Brasil precisa mudar. De cada dez famílias brasileiras, oito estão superendividadas por causa dos juros altos”, disse.

A candidata do MDB, Simone Tebet, fez campanha em São Paulo. Ela prometeu combater a miséria e investir em habitação popular. “Dinheiro tem, só que está indo para a corrupção do orçamento secreto”, disse.

 

Leia em: https://flip.correiobraziliense.com.br/edicao/impressa/3635/21-08-2022.html?all=1