Valor Econômico, v. 20, n. 4834 11/09/2019. Política, p. A6

PF prende filho de ex-ministro Lobão

 André Guilherme Vieira
 Andrea Torrente


Mais longa operação policial em curso na história brasileira, com cinco anos e meio de duração, a Lava-Jato chegou ontem à 65ª fase, batizada de 'Galeria', mirando velhos alvos da investigação iniciada em março de 2014: o ex-senador e ministro de Minas e Energia nos governos do PT, Edison Lobão, e seu filho Márcio - que foi preso preventivamente no Rio de Janeiro por ordem da juíza Gabriela Hardt, substituta da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba.

Ambos teriam recebido R$ 50 milhões em propinas de 2008 a 2014, segundo a força-tarefa da Lava-Jato no Ministério Público Federal (MPF) do Paraná. Márcio Lobão é suspeito de ajustar pagamentos e recolher propinas.

Juiz do caso até 2018, o atual ministro da Justiça, Sergio Moro - que atravessa crise política com o presidente Jair Bolsonaro por causa do comando sobre a Polícia Federal -, elogiou a deflagração de mais uma etapa da operação.

"Polícia Federal segue firme contra a corrupção e a lavagem de dinheiro. Longa vida à Operação Lava-Jato", postou o ministro em sua conta no Twitter.

A ação também teve como alvo a Transpetro, subsidiária da Petrobras. Foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Filiado ao MDB do Maranhão, Edison Lobão é investigado desde o início de 2015 pelo suposto recebimento de propinas envolvendo a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.

Os procuradores apontam irregularidades em mais de 40 acordos firmados pela Transpetro com grupo de empresas do ramo de serviços ambientais, Estre Ambiental, Pollydutos, Consórcio NM e Estaleiro Rio Tietê. O montante dos contratos com a subsidiária da Petrobras chega a R$ 1 bilhão, segundo o MPF.

Os indícios apontam que supostos valores recebidos por Márcio Lobão teriam sido incorporados a seu patrimônio por meio de operações de lavagem de dinheiro.

Essas transações envolveriam a sobrevalorização de peças de arte com uso de laranjas, simulações de compra e venda de imóveis e uso de contas e operações financeiras no exterior. O nome da operação se refere à suspeita de uso de obras de arte para lavar dinheiro.

A força-tarefa suspeita de ao menos cinco quadros comprados e revendidos por Márcio Lobão por cerca de R$ 1 milhão. Nas transações, o lucro chegou em alguns caso a 1788%, segundo o MPF.

Em sua delação premiada, o ex-diretor da Transpetro, Sérgio Machado, afirmou que Márcio era responsável por coletar, em nome do pai Edison, propina das empresas investigadas.

O dinheiro vivo era recebido em escritório de advocacia no Rio vinculado à família Lobão e repassado a integrantes do MDB, cujos nomes não foram revelados, segundo o MPF. O quadro "A serpente e o Pássaro", que teve valor estimado em R$ 1,3 milhão, de Beatriz Milhazes, foi comprado por Márcio Lobão em 2014.

Ele teria usado R$ 500 mil em espécie de propina paga pela Odebrecht. Na declaração do Imposto de Renda, Lobão informou que gastou R$ 183 mil pela compra do quadro. Segundo os procuradores, Lobão fornecia valores em espécie para a galeria de arte Almeida e Dale, em São Paulo, e em troca recebia cheques não nominais, que Márcio usava para pagar as parcelas das obras de arte.

Depois, segundo o MPF, Lobão revendia as obras à galeria de arte a preços sobrevalorizados para esconder os repasses em espécie.

A defesa de Márcio Lobão disse que a operação trata de "fatos antigos", que ele sempre prestou esclarecimentos, colaborou com a Justiça e que não houve ação dos investigados "a impedir ou dificultar o trabalho do órgão de acusação".

A Estre Ambiental afirmou, em nota, que tem colaborado e prestado "os esclarecimentos necessários às autoridades responsáveis pela elucidação do caso". A defesa da galeria Almeida & Dale disse que a empresa "jamais compactuou com qualquer conduta ilícita e sempre adotou política de absoluta transparência em suas transações envolvendo o mercado de obras de arte".