Valor Econômico, v. 20, n. 4915, 09/01/2020. Internacional, p. A10

Banco Mundial vê expansão menor neste ano

Jeff Kearns


O crescimento econômico mundial deverá avançar lentamente neste ano e no próximo, embora a recuperação deva ser mais modesta do que se previa, mesmo com o abrandamento das tensões comerciais. A afirmação foi feita ontem pelo Banco Mundial.

A expansão terá uma aceleração pequena, de 2,4% em 2019 para 2,5% neste ano, em grande parte em razão da estabilização de um punhado de grandes economias emergentes, informou a instituição em seu mais novo relatório Perspectivas Econômicas Globais. O banco também alertou que as condições permanecem frágeis e por isso reduziu as estimativas de crescimento para 2019, 2020 e 2021, além de reduzir as estimativas para a zona do euro e a China para este ano.

“Essa recuperação projetada poderá ser mais forte se ações políticas recentes - especialmente aquelas que aliviaram as tensões comerciais - levarem a uma redução sustentada das incertezas políticas”, escreveram os economistas do banco. “Mesmo assim, os riscos negativos predominam, incluindo a possibilidade de uma nova escalada das tensões comerciais, acentuada desaceleração nas maiores economias e rupturas financeiras em mercados emergentes e economias em desenvolvimento.”

As perspectivas de uma recuperação instável seguem-se a um ano em que o comércio e investimentos hesitantes legaram ao mundo seu crescimento mais fraco desde a crise financeira global. O Banco Mundial alertou que o cenário dependerá de muita coisa dar certo - um resultado que será menos provável se as tensões entre EUA e Irã persistirem. O relatório reflete leituras feitas apenas até dezembro, mas o posterior aumento das tensões geopolíticas poderá afetar a confiança e aumentar as incertezas, segundo Ayhan Kose, diretor do Grupo de Perspectivas Econômicas do Banco Mundial.

“Até agora, as reações têm sido um pouco moderadas, mas teremos de esperar, porque há fatos em andamento”, disse Kose. “As condições de segurança frágeis são sempre um problema, e se houver um aumento sustentado das incertezas, isso terá um impacto sobre a confiança, o que por sua vez terá um impacto sobre o rumo dos investimentos e da atividade global.”

A projeção é de que o comércio mundial vai se recuperar após a forte desaceleração em 2019. O crescimento em volume passará de 1,4% no ano passado (um recorde de baixa no pós-crise) para 1,9% este ano e 2,5% em 2021, segundo o Banco Mundial. Para os EUA, o banco elevou suas estimativas de crescimento para 2020 e 2021 em 0,1 ponto percentual para 1,8% e 1,7%, respectivamente, depois de uma previsão de 2,3% para 2019. Mais progressos nas negociações comerciais com a China e menos incertezas nas políticas comerciais poderão resultar em mais crescimento para os EUA.

No entanto, a maior parte das revisões para 2020 são para baixo. O Banco Mundial cortou a previsão para a Europa em 0,4 ponto percentual, para 1%, com a estimativa para 2021 permanecendo inalterada em 1,3%. A previsão para a China foi reduzida para 5,9%, que seria a primeira leitura abaixo de 6% desde 1990, com mais desaceleração esperada para os dois seguintes. A estimativa para 2020 para o Japão permaneceu inalterada em 0,7%.

A previsão de um crescimento global modesto se deveu principalmente a alguma recuperação em poucas grandes economias emergentes, sendo que a maioria delas permanecem frágeis uma vez que estão saindo de recessões ou desacelerações. Cerca de 90% dessa alta esperada para 2020 vêm de apenas oito países: Argentina, Brasil, Índia, Irã, México, Rússia, Arábia Saudita e Turquia.