Valor Econômico, v. 20, n. 4830 05/09/2019. Política, p. A14

Dada como certa, saída de diretor-geral da PF ampliará desgaste imposto a Moro

  Isadora Peron
  Renan Truffi
  André Guilherme Vieira


Após novas declarações do presidente Jair Bolsonaro, a troca do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo, é considerada certa na corporação e já há nomes cotados para substituí-lo.

 

O principal deles é o atual secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Gustavo Torres, que nos últimos dias se reuniu duas vezes com o ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira. Número dois da pasta estadual, Alessandro Moretti também é candidato a substituir Valeixo.

Quem também ganhou força para o cargo foi o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. Ele coordenou a segurança da campanha de Bolsonaro após o atentado a faca que o então candidato sofreu em Juiz de Fora (MG), em setembro de 2018.

Para um integrante da cúpula da PF, Bolsonaro quis, mais uma vez, atingir Moro ao mirar Valeixo. Ao dizer que acertou com o ministro a saída do diretor-geral, o presidente impõe uma nova pressão ao ex-juiz da Lava-Jato, que terá de decidir se acata a imposição de Bolsonaro ou se enfrenta o presidente e mantém o aliado no cargo.

A mesma estratégia foi usada para forçar a demissão de outro aliado de Moro, o então presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Roberto Leonel. Na avaliação da fonte dessa fonte da PF, a corporação é a ferramenta da vez usada por Bolsonaro para pressionar Moro.

Bolsonaro continuará a desidratar Moro politicamente. Na avaliação de outro integrante da PF, há ainda uma preocupação presidencial de que Valeixo, notabilizado por sua atuação em casos de corrupção, dê sinal verde a eventuais apurações que respinguem no clã Bolsonaro.

O novo número um da PF a ser escolhido por Bolsonaro servirá de termômetro para aferir a intensidade do enfraquecimento de Moro no governo. A análise de um aliado do ministro é que, se o próximo chefe da PF for um delegado da confiança de Moro, o dano ao ministro será reduzido.

Em entrevista publicada ontem pelo jornal Folha de S.Paulo , Bolsonaro afirmou que estava tudo acertado com Moro para que ele trocasse, quando quisesse, o diretor-geral da PF - que é homem de confiança do ministro desde antes dos áureos tempos da Lava-Jato de Curitiba.

O presidente também defendeu que o comando da PF precisa de uma "arejada" e chamou de "babaquice" a reação de integrantes da corporação às declarações dele sobre a troca do superintendente regional do Rio.

Ontem, ao ser questionado sobre as declarações, Bolsonaro baixou o tom e disse que "tudo" em seu governo precisa de uma "arejada" e não apenas a PF.

Um dos argumentos de Bolsonaro é que Valeixo integra o grupo que está no Poder desde a gestão Leandro Daiello, que chegou ao comando da corporação em 2011, no governo Dilma Rousseff.

Essa análise encontra respaldo em integrantes da base de Bolsonaro. O deputado Marcelo Freitas (PSL-MG), que é delegado da PF, diz que esse é um sentimento que existe no baixo clero da corporação. "Consultando alguns delegados, aqueles delegados que atuam na ponta, chão de fábrica, eles acham que é importante fazer a troca da ciranda, entre aspas, porque é a mesma turma que está ocupando o Poder nos últimos nove anos", disse.

Para delegados da PF, o silêncio de Moro tem sido um dos sinais de que a sobrevida do diretor-geral está próxima do fim. No início da crise, em meados de agosto, aliados do ministro chegaram a afirmar que Moro poderia deixar o cargo caso o presidente exigisse a cabeça do aliado.

Hoje, ninguém mais aposta nesse desfecho. Na semana passada, após os dois terem pelo menos duas conversas ásperas, Bolsonaro e Moro tentaram demonstrar um armistício e se deixaram fotografar abraçados durante evento realizado no Palácio do Planalto.

Em discurso, o presidente elogiou Moro. O ministro retribuiu. A análise que aliados de ambos fazem é que, neste momento, ambos teriam muito a perder com a saída do ex-juiz da Lava-Jato governo. Tanto Bolsonaro pensou em demiti-lo como Moro cogitou entregar o cargo.

Mesmo com o desgaste decorrente da divulgação de mensagens trocadas com procuradores, que colocaram em dúvida a sua imparcialidade como juiz, Moro continua com a popularidade em alta e mantém a imagem vinculada ao combate à corrupção.

O ministro deixou 22 anos de magistratura para se juntar ao governo e, por ora, não tem 'plano B' caso decida se demitir - ou se for demitido.

Ele foi alertado por aliados que, sem cargo, correrá risco de inviabilizar eventual candidatura em 2022. A alternativa, em caso de saída, seria migrar para  o governo paulista de João Doria (PSDB-SP) - o tucano quer Moro na secretaria de Segurança Pública.

Na segunda-feira Valeixo tira 10 dias de férias que já estavam programadas - mas sabe que pode não voltar ao cargo.