Valor Econômico, v. 20, n. 4829 04/09/2019. Empresas, p. B3

Recorde da Petrobras marca tendência, dizem especialistas

 Rodrigo Polito
 Alessandra Saraiva


O recorde de produção de petróleo e gás natural divulgado ontem pela Petrobras para o mês de agosto indica uma tendência de crescimento esperado para a companhia nos próximos anos, segundo avaliação de especialistas. A empresa comunicou ao mercado que obteve, na média do mês passado, 3 milhões de barris de óleo equivalente (BOE) por dia. O volume é 21% superior ao contabilizado em igual mês de 2018 e 10% maior que o observado em julho deste ano. Apesar do aumento previsto pela Petrobras para os próximos anos, da ordem de 5% ao ano, em média, até 2023, a companhia deve reduzir a sua participação na produção de petróleo no país. Simultaneamente, outros produtores ganharão espaço como resultado dos últimos leilões de áreas da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

O consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), diz que a tendência é a produção no país alcançar 4 milhões de barris de petróleo por dia em 2022-2023, considerando todos os produtores. Hoje há cinco empresas que atuam no pré-sal como operadores - Petrobras, Exxon, Equinor, Shell e BP. Mas nem todos os campos estão em produção, o que é esperado para os próximos anos. Pires diz que o pré-sal tem sido uma área de alta produtividade: "Há poços produzindo 50 mil, 60 mil barris por dia."

No caso da Petrobras, tudo indica que o salto observado na produção em agosto foi resultado das atividades no pré-sal. Isso porque a petroleira informou que também foi recorde a média da produção operada pela estatal na área, incluindo a fatia dos parceiros, de 2,2 milhões de BOE diários.

David Zylbersztajn, consultor e ex-diretor da ANP, diz que o aumento da produtividade dos campos do pré-sal e a entrada em operação de novas áreas indicam a tendência de crescimento da produção da estatal no futuro. Além disso, a Petrobras tem colocado em operação novas plataformas. Foram sete desde 2018 até agora e serão mais dez até 2023. São unidades de grande porte em sua maioria, com capacidade de produzir, estocar e transferir 150 mil barris de óleo por dia. Há inclusive plataformas ainda maiores, de 180 mil barris/dia.

A divulgação do dado de agosto foi uma exceção uma vez que a Petrobras, na gestão de Roberto Castello Branco, passou a publicar os dados em relatórios trimestrais. A publicação da produção de agosto foi necessária para atender a legislação, já que o diretor de exploração e produção da companhia, Carlos Alberto Pereira de Oliveira, iria comentar os números em reunião com investidores ontem. No comunicado de ontem, a Petrobras informou ainda ter atingido recorde de produção diária de óleo e gás, de 3,1 milhões de BOE, acima da média mensal de agosto. Não foi informado, porém, o dia do mês em que o resultado foi obtido.

O consultor John Forman, que também foi diretor da ANP, explica que o crescimento da produção em agosto está em linha com a estratégia da Petrobras de retirar o maior volume possível do pré-sal enquanto vive-se o melhor momento considerando que a demanda por petróleo deverá atingir seu pico nas próximas décadas. Segundo projeções da ANP, o Brasil poderá saltar da nona para a quinta posição no ranking dos maiores produtores de petróleo. A estimativa da agência é que em 2030 a produção de petróleo no país seja de 7 milhões de barris por dia.

O resultado de agosto mostra uma recuperação em relação ao revés que a companhia teve em junho. Por problemas operacionais, a empresa produziu 240 mil BOE/dia, abaixo do esperado. Por isso, reduziu a meta para 2019 de 2,8 milhões de BOE/dia para 2,7 milhões de BOE/dia, com variação de 2,5% para mais ou para menos.