Valor Econômico, v. 20, n. 4829 04/09/2019. Política, p. A6

Bolsonaro pede "verde e amarelo" pela Amazônia

 Fabio Murakawa


O presidente Jair Bolsonaro conclamou ontem a população a sair às ruas usando verde e amarelo no feriado de 7 de setembro para mostrar "que a Amazônia é nossa". Ele fez a afirmação ao discursar no Palácio do Planalto durante o lançamento da Semana do Brasil, uma espécie de "Black Friday" estendida promovida pelo governo em que empresários prometem oferecer descontos e promoções para os consumidores entre os dias 6 e 15 deste mês.

Ao fazer o comentário, Bolsonaro ironizou o ex-presidente Fernando Collor, que em 1992 convocou os brasileiros a irem às ruas usando as cores da bandeira nacional para defendê-lo contra o processo de impeachment. O efeito foi o contrário: multidões foram às ruas vestidas de preto.

"A gente apela para quem está nos ouvindo, para quem está em Brasília, quem por ventura estiver no Rio de Janeiro, em São Paulo, que compareça de verde e amarelo [ao 7 de setembro]", disse. "Eu lembro que lá atrás um presidente falou isso e se deu mal. Mas não é o nosso caso. Nosso caso é o Brasil. Não é para me defender, ou defender quem quer que seja. É para mostrar para o mundo que aqui é o Brasil. Que a Amazônia é nossa." O presidente vem adotando um discurso nacionalista sobre a Amazônia depois das críticas internacionais à sua política ambiental.

O alvo preferencial de Bolsonaro vem sendo o presidente francês, Emmanuel Macron. Bolsonaro tem criticado o francês quase diariamente em entrevistas, dizendo que ele colocou em dúvida a soberania brasileira sobre a Amazônia e que o chamou de "mentiroso".

O presidente brasileiro cancelou sua ida a um encontro de líderes sul-americanos para tratar dos incêndios florestais e políticas para a região amazônica previsto para a sexta-feira, na cidade colombiana de Leticia. O motivo é a cirurgia a que será submetido dois dias depois para tratar de uma hérnia incisional surgida em decorrência da facada que levou durante a campanha eleitoral do ano passado. A ideia é que o presidente participe da reunião por teleconferência.

Em função da questão de saúde, interlocutores do presidente Jair Bolsonaro dizem que ele dificilmente saltará de paraquedas durante sua viagem hoje a Goiás. O presidente, que irá a Anápolis para a entrega de um cargueiro KC-390 da Embraer para a Força disse ontem a jornalistas que cogitava fazer um salto. Bolsonaro, que tem formação como paraquedista pelo Exército, já não salta há muitos anos e teria que passar por uma "readaptação" para saltar de novo. Essa readaptação, uma espécie de treinamento, dura apenas algumas horas

Ontem, Bolsonaro prometeu "facilitar a vida dos estudantes" com o lançamento da carteira estudantil digital, programado para esta semana. Ele afirmou ainda que "vai faltar dinheiro para o PCdoB", em referência ao domínio exercido pelo partido sobre a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), que recolhem taxas para a emissão de carteirinhas estudantis.

"Carteira digital. Vou facilitar a vida dos estudantes. Não vai ter mais que pagar para a UNE, que quem manda lá é o PCdoB", afirmou Bolsonaro a jornalistas ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã de ontem. "Vai faltar dinheiro para o PCdoB, hein."

O presidente deu ontem entrevista para o jornal "Folha de S.Paulo" no Alvorada e comentou sobre a possibilidade da volta da CPMF. "Já falei para o [ministro da Economia, Paulo] Guedes: para ter nova CPMF, tem que ter uma compensação para as pessoas. Se não, ele vai tomar porrada até de mim". Na mesma entrevista, Bolsonaro também ressaltou que a proposta de reforma tributária vai se concentrar nos impostos federais. "O [Marcos] Cintra às vezes levanta a cabeça, mas eu vou lá e dou uma nele", disse Bolsonaro à Folha, em referência ao secretário especial da Receita Federal.