Valor Econômico, v. 20, n. 4822 24/08/2019. Política, p. A11

Alcolumbre atua em favor de Eduardo

Vandson Lima


 

Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), entrou no jogo para tentar aprovar o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, como embaixador nos Estados Unidos.

Ao Valor, senadores confirmam que Alcolumbre tem abordado parlamentares indecisos ou contrários à indicação que, acredita, podem por ele ser influenciados de alguma maneira. O discurso é sempre parecido: entende eventuais insatisfações com o governo, mas que o momento é de protagonismo do Congresso Nacional - e o Senado aglutinará as pautas mais importantes do semestre. E principalmente, que sua interlocução com Bolsonaro está cada vez melhor: por isso, Alcolumbre garante que vai interceder para que os senadores tenham mais acesso aos ministros - com o objetivo, claro, de que suas demandas sejam atendidas. "O que é demanda? Demanda é liberação de emenda, é cargo nos Estados, é ser recebido pelo Bolsonaro. Depende do freguês", relata, sob reserva, um senador de um partido "independente" procurado por Alcolumbre.

Na outra ponta, senadores normalmente governistas, mas contrários à escolha do filho do presidente para comandar a representação brasileira nos EUA têm recebido, de outros interlocutores do Palácio do Planalto, recado no sentido inverso. Se estão sendo hoje bem tratados nos ministérios, amanhã podem não ser mais, caso votem contra Eduardo.

Apesar de a indicação ainda não ter sido oficializada, Eduardo está empenhado. Tem visitado senadores em seus gabinetes e pedido apoio. Na quarta-feira, esteve no plenário e no cafezinho do Senado, acompanhado do irmão, senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). "Eu disse a ele que a sabatina será decisiva. E é bom ele estar muito bem preparado", diz o senador Esperidião Amin (PP-RS), que recebeu a visita de Eduardo e conhece Bolsonaro, o pai, de longa data - eles foram companheiros de partido por muitos anos no PP (atual Progressistas).

Há, de fato, grande expectativa da performance que Eduardo terá na sabatina na Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado. O colegiado está dividido - dos 19 integrantes, oito são a princípio contrários à indicação, sete favoráveis e quatro estão indecisos.

Mesmo se rejeitado pela CRE, Eduardo pode ainda ser aprovado pelo plenário do Senado. Mas um desempenho ruim na Comissão é péssimo presságio: em 2015, Guilherme de Aguiar Patriota, indicado pela ex-presidente Dilma Rousseff para representar o Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA), irritou senadores com respostas provocativas na sabatina. No plenário, foi reprovado com a diferença de um voto: foram 37 favoráveis e 38 contrários, o que o tornou o primeiro diplomata de carreira a não obter o aval para assumir o posto.

O recado para Eduardo, dado pelos senadores indiretamente ao lhe cobrar bom desempenho, é que mesmo quem é simpático a ele não terá como apoiar uma indicação tão controversa se ele tiver um desempenho ruim na sabatina. A votação é secreta tanto na CRE quanto no plenário.

Nas bancadas da Casa, a situação também não está fácil. MDB, Podemos e PSD, maiores partidos do Senado, estão divididos. No PSDB, dos oito integrantes, seis tendem a votar contra Eduardo Bolsonaro.