Valor Econômico, v. 20, n. 4821 23/08/2019. Especial, p. A16

Bolsonaro admite possibilidade de privatização da companhia

Fabio Murakawa


 

O presidente Jair Bolsonaro admitiu ontem a possibilidade de privatizar a Petrobras ao longo de seu governo, mas disse que o ministro da Economia, Paulo Guedes, "não mostrou ainda" uma proposta para a venda da empresa. Na quarta-feira, membros da equipe econômica disseram ao Valor, em condição de anonimato, que a medida está em estudo. Para Bolsonaro, "a ideia é abrir o Brasil".

"Vamos ver a proposta que vai ser apresentada para mim. Vamos ver a proposta que vai chegar até mim, daí eu falo. Paulo Guedes não mostrou ainda", afirmou Bolsonaro ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã de ontem.

Questionado se há estudo da medida em curso, Bolsonaro respondeu: "Estuda tudo. Tudo o governo estuda. Precisamos nos preparar para qualquer coisa. Estuda privatizar qualquer coisa no Brasil. Tudo é estudado, tudo é levantado, tudo é discutido. Você vai ter que analisar custo-benefício, o que é bom para o Brasil e o que não é".

Questionado sobre se concorda com a venda, afirmou: "Vamos ver a proposta quando chegar para mim. Aí eu falo". O presidente disse ter recebido queixas em suas redes sociais de que o preço da gasolina na bomba não reflete as quedas nas refinarias.

"Eu quero saber por que o preço diminui na refinaria, que está diminuindo, e na ponta não diminui. O que a gente tem que fazer para esse preço chegar na ponta? Se está havendo cartel ou não está, não posso acusar", afirmou.

Depois, o presidente se irritou com uma pergunta sobre se sua declaração não configuraria interferência na politica de preços da Petrobras.

"Interferência na política de preços? Pelo amor de Deus. Que pergunta, né? É uma estatal? Qual o objetivo, qual o fim social da estatal? É atender melhor a população. Em nenhum momento eu falei 'abaixa o preço aqui, lá, acolá'. É uma coisa, uma percepção que o povo todo, nas minhas mídias sociais, tem reclamado", afirmou. "Não é interferência, eu quero saber o que está acontecendo."

Depois, Bolsonaro voltou a queixar-se de como suas declarações e medidas para trocar dirigentes de empresas são interpretadas. "Se um dia eu demitir alguém na Petrobras, é interferência? Me elegeram presidente para quê? Para manter a turma do PT que estava lá? É isso?", afirmou. "Eu não posso trocar nome de ninguém agora porque tudo é interferência. Se for pra manter as mesmas pessoas, eu não deveria ser presidente." Bolsonaro disse que seu governo "estuda privatizar qualquer coisa".

"Tudo é levantado, tudo é discutido. Você vai ter que analisar o custo-benefício, o que é bom para o Brasil o que não é. Tudo pode ser estudado", afirmou.