Valor Econômico, v. 20, n. 4821 23/08/2019. Especial, p. A16

Sindicatos de petroleiros sinalizam com greves

Gabriel Vasconcelos


 

Sindicatos de petroleiros ouvidos pelo Valor alertam que o aceno de membros do governo à possível privatização da Petrobras "esquentou" os ânimos da categoria em todo o país. O anúncio sobre "estudos objetivos" com este fim tende a turbinar a agenda de mobilização, ainda em gestação, resultando em uma greve nos moldes das observadas em 1995 e 2015, afirmam sindicalistas.

Segundo representantes dos petroleiros, sindicatos locais têm registrado rejeição massiva às contrapropostas da estatal referentes ao Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) pelo dissídio da categoria. Somada a essa conjuntura, as declarações sobre uma eventual venda da empresa teriam criado um terreno fértil para uma greve.

As praças votam até o fim do mês se aceitam ou não os termos da Petrobras. Segundo a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), em pelo menos 18 de suas bases a proposta da empresa foi rechaçada com boa margem de votos.

Para o representante da FNP Adaedson Costa, a privatização total da Petrobras tem sido encarada como possibilidade concreta pelos sindicatos. "Desde que o STF deu aval à venda de ativos sem consulta ao Congresso, tudo é possível. Embora só valha para subsidiárias, sabemos que isso é relativo e privatizar tudo só depende de manobras administrativas", afirma.

Deyvid Bacelar, do Sindipetro Bahia, acredita que a agenda do governo desencadeará uma reação que pode levar à maior greve da história do sistema Petrobras. "A verdade é que a empresa já está sendo vendida. Colocar na lista [de empresas a serem privatizadas] só formalizaria o que o governo já está fazendo", diz.

"Estamos em mobilização ascendente até chegar no clímax, a greve. Hoje mesmo na RLAM [Refinaria Landulpho Alves, na Bahia], fizemos uma mobilização com mais de 500 concursados entre nós. No fim do mês haverá seminários de preparação de greve organizados pela FUP [Federação Única dos Petroleiros] e FNP", afirma.

Representante do Sindipetro do Norte Fluminense, no Rio, Tezeu Bezerra afirma que a reação ainda é pontual, com a realização de assembleias locais. Mas ele admite a dificuldade de promover uma greve ancorada na ameaça de privatização, alvo de reveses no Tribunal Superior do Trabalho (TST). No ano passado, o TST julgou como "abusivos" movimentos contra vendas de ativos da Petrobras por terem cunho político e impôs pesadas multas aos sindicatos. "É difícil, mas é preciso ter claro de que essa luta vai acontecer de qualquer jeito", diz. "Não aceitaremos quietos. Os petroleiros vão resistir, como fizemos em 1995", completa.