Valor Econômico, v. 20, n. 4821 23/08/2019. Brasil , p. A3

Macron leva discussão sobre Amazônia à reunião do G-7

Assis Moreira


 

Autoridades estrangeiras reagiram ontem às queimadas na Amazônia, considerando que se trata de uma crise internacional, enquanto televisões no exterior mostraram o fogo na floresta e a fumaça que deixou São Paulo no escuro.

O presidente francês, Emmanuel Macron, que vai presidir o G-7, reunindo grandes nações industrializadas, neste fim de semana em Biarritz (França), anunciou num tuíte que as queimadas na Amazônia vão ter de ser discutidas no evento.

"Nossa casa está queimando. Literalmente. A Amazônia, o pulmão de nosso planeta, que produz 20% do nosso oxigênio, está em chamas. É uma crise internacional. Membros do G-7, vamos dentro de dois dias discutir essa urgência", escreveu Macron. A postagem utiliza uma foto antiga.

Pouco antes, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que também estará no encontro do G-7, havia escrito mensagem no Twitter: "Estou profundamente preocupado com as queimadas na floresta amazônica. Em meio à crise climática global, não podemos permitir mais danos a essa grande fonte de oxigênio e biodiversidade. A Amazônia precisa ser protegida".

O G-7, formado por EUA, Alemanha, Japão, França, Reino Unido, Itália e Canadá, deverá endossar carta sobre biodiversidade. Visa acelerar e intensificar esforços para frear a perda da biodiversidade, conservar e restaurar ecossistemas. Nesse debate, o foco na Amazônia será inevitável.

Ontem,às queimadas na Amazônia e a acusação do presidente Jair Bolsonaro de que a culpa seria de organizações não governamentais (ONGs) ocuparam manchetes de jornais e de TVs na Europa, reforçando a percepção negativa sobre o que ocorre no Brasil.

Representações diplomáticas do Brasil na Europa foram alertadas de que hoje devem ocorrer manifestações em frente de embaixadas e consulados em várias grandes cidades, protestando contra o que consideram políticas de descaso do governo Bolsonaro em relação à floresta amazônica.

Analistas reforçam o sentimento de que o acordo comercial entre a União Européia (UE) e o Mercosul, que demorou 20 anos para ser concluído, poderá levar mais um bom tempo para um dia ser ratificado pelos europeus.

A onda verde que chegou ao Parlamento Europeu, em recente eleição, deve se repetir em votações nacionais. E a oposição ao entendimento comercial vai se consolidar com a crise que ocorre. Basta ver a reação de Macron. A França foi um dos países mais resistentes à negociação comercial, e os argumentos dados pelo governo de Bolsonaro na área ambiental reforçam o lado dos que se opõem à ratificação do entendimento.

Na Suíça, país que atualmente negocia acordo de livre-comércio com o Mercosul, como membro da Associação Europeia de Livre-Comércio (Efta, em inglês), os temas de "Fogo na Amazônia" e "Brasil" dominavam a lista de assuntos do momento do Twitter.

Para um atento observador da situação brasileira, é necessário dar um basta às declarações tóxicas partidas não só do presidente Jair Bolsonaro, como também de auxiliares próximos, que pioram a percepção do Brasil no exterior.