Valor Econômico, v. 20, n. 4820 22/08/2019. Política , p. A15

Ex-vice-presidente da Odebrecht é preso suspeito de corrupção

 André Guilherme Vieira
 Andrea Torrente


O ex-vice-presidente jurídico do grupo Odebrecht Maurício Ferro e o advogado Nilton Serson foram presos temporariamente, ontem, suspeitos de participação em esquema de corrupção envolvendo medidas provisórias e por suposta manutenção de dinheiro ilícito no exterior. O ex-ministro da Fazenda no governo Dilma Rousseff, Guido Mantega, teve pedido de prisão negado pela Justiça, que determinou, no entanto, que ele use tornozeleira eletrônica e entregue seus passaportes brasileiro e italiano.

As medidas foram solicitadas pela força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) e decretadas pelo juiz Luiz Antonio Bonat, da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, que também ordenou o bloqueio ao limite de R$ 555 milhões das contas dos investigados.

A Polícia Federal (PF) cumpriu 11 mandados de busca e apreensão em São Paulo e Bahia - incluindo endereços do ex-presidente da Braskem Bernardo Gradin - durante a deflagração da 63ª fase da Lava-Jato do Paraná.

Foram apreendidos quatro pen drives contendo chaves eletrônicas com acesso às planilhas criptografadas do setor de propinas da Odebrecht na casa de Maurício Ferro, segundo a PF.

"Os arquivos podem ter detalhamento de pagamentos [de propina] mais recentes, resultando em possíveis ações penais", disse o delegado Thiago Giavarotti durante entrevista concedida ontem, em Curitiba. O material, entretanto, está criptografado e os policiais trabalham para ter acesso ao código.

A partir do acordo de leniência firmado pela Braskem com o MPF, surgiram indícios de que Maurício Ferro teria comandado a celebração de ao menos 18 contratos de advocacia fraudulentos com Nilton Serson, entre 2005 e 2013.

Os investigadores afirmam que Ferro e Serson usaram contas por eles mantidas no exterior para o recebimento de valores que foram transferidos de outras contas controladas pelo setor de propinas da Odebrecht.

O MPF diz que, em 2010, por ordem de Ferro, foram transferidos cerca de US$ 10 milhões para contas titularizadas por Serson no exterior em nome de offshores.

A partir de informações do ex-presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, e de delatores que integraram o departamento de propinas do conglomerado, os investigadores buscaram aprofundar a investigação sobre indícios de corrupção e lavagem de dinheiro que teriam envolvido as Medidas Provisórias 470 e 472. Elas permitiram o pagamento de débitos fiscais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) com o uso de prejuízos fiscais de exercícios anteriores.

Advogado de Mantega, Fábio Tofic afirmou que a investigação "vai ajudar a provar que ele nunca recebeu um centavo da Odebrecht ou de quem quer que seja". Ele considerou "abusiva" a imposição de tornozeleira ao ex-ministro.

Defensor de Maurício Ferro, Gustavo Badaró disse que "recebeu com surpresa" a notícia da prisão e que a decisão do juiz "não traz nenhum fato novo" A defesa de Nilton Serson não quis se pronunciar sobre a prisão.