Valor Econômico, v. 20, n. 4848, 01/10/2019. Política, p. A10

Bolsonaro deve demitir presidente do Incra

Cristiano Zaia 


O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o general João Carlos Jesus Corrêa, deve ser exonerado do cargo, apurou o Valor. O presidente Jair Bolsonaro teria decidido também demitir toda a diretoria do órgão, que se tornou sinônimo de “problema”, segundo fontes do governo.

O processo de desgaste do militar - que havia sido indicado pelo ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República Carlos Alberto Santos Cruz - acontece após Corrêa ter entrado em colisão com o secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Luiz Antônio Nabhan, ruralista próximo a Bolsonaro.

Além de Nabhan, Corrêa sofreu pressões da bancada ruralista e de alguns governadores que passaram a se queixar da falta de resultados da gestão do militar. Outro general, Franklimberg de Freitas, ex-presidente da Funai, também caiu após pressão de Nabhan.

No governo Bolsonaro, o Incra foi transferido da Casa Civil para a Agricultura e incorporado à estrutura da secretaria de Nabhan. O ex-presidente da União Democrática Ruralista (UDR), que chegou a ser cotado para ministro da Agricultura, no entanto, vinha se queixando frequentemente do general tanto ao presidente Bolsonaro quanto para a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

Nabhan reclamava que o presidente do Incra vinha dificultando o processo de entrega de títulos a assentados da reforma agrária, uma das promessas deste governo. De perfil reservado e avesso a entrevistas, Corrêa vinha se desentendendo com Nabhan nos bastidores, segundo fonte do Ministério da Agricultura.

A própria ministra Tereza Cristina já havia, em mais de uma ocasião, feito críticas públicas ao órgão que herdou. A ministra criticava o aparelhamento político de superintendências regionais e chegou a determinar um pente-fino em contratos do órgão.

Além da disputa interna, o Incra passa por um estrangulamento de seu orçamento, em meio à crise fiscal. Tereza Cristina já declarou que neste ano não estão previstos novos assentamentos de reforma agrária e que a solução encontrada será ampliar as verbas destinadas ao crédito fundiário, usado para aquisição e casas populares para assentados.