Valor Econômico, v. 20, n. 4815, 15/08/2019. Política, p. A16

Desgaste do PSDB pode levar Anastasia a deixar partido

Marcos de Moura e Souza


Filiado ao PSDB desde 2005, o senador Antonio Anastasia avalia a possibilidade de trocar o partido pelo PSD. A mudança, se concretizada, terá como motivação a busca por uma legenda que não tenha sofrido tanto desgaste junto aos eleitores como o PSDB sofreu nos últimos anos - algo que também afetou outros partidos grandes.

 

No caso dos tucanos, uma das principais fontes de desgaste tem nome: o atual deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), flagrado no ano passado em uma conversa telefônica no qual pedia R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, dinheiro que foi transferido para Minas Gerais escondido dentro de malas.

Aécio é alvo de inquéritos relacionados ao caso e enfrenta pressão de uma ala paulista do PSDB, que quer sua expulsão.

"Os partidos ficaram muito desgastados, especialmente os partidos que estavam no governo. O PSDB, o PT, MDB são partidos que se desgastaram muito ao longo dos anos, infelizmente. Mas é a realidade. Então, é natural que se você tiver desdobramentos eleitorais para o futuro você vai ter que analisar quadros eleitorais próprios da realidade do seu Estado", disse Anastasia em entrevista ao Valor. O PSDB é o único partido ao qual se filiou até então.

Perguntado se está considerando mudar em breve para o PSD, ele diz: "Não podemos desconsiderar, mas também não vou dizer que é uma hipótese viável a curto prazo".

Anastasia é o primeiro vice-presidente do Senado e único senador tucano por Minas. Seu mandato como senador vai até 2023 e as discussões de uma nova candidatura pelo PSDB ou pelo PSD se dariam, em tese, em 2022, diz ele. Se vai ou não antecipar essa discussão, Anastasia fica no muro: "Não posso precisar isso porque a política é a arte do permanente diálogo".

O senador não quer atrelar sua eventual saída do PSDB ao caso Aécio. Mas não esconde dificuldades com os eleitores.

"Partidos tradicionais, partidos que já governaram o Brasil e os Estados, têm contra seus membros diversos tipos de indagações, eventualmente até acusações. Isso representou um desgaste nas eleições passadas em geral", disse Anastasia, que falou com a reportagem em seu escritório político em Belo Horizonte. "Não é caso de A, B ou C. Há uma generalização nesse aspecto. Temos que entender esse momento político e esse desgaste em relação ao eleitor."

Anastasia e Aécio integram há anos o mesmo grupo político em Minas. Anastasia foi secretário de Estado e vice de Aécio quando este governou Minas, entre 2003 e 2010 e foi seu sucessor, como governador, até 2014.

O senador tem repetido que é contra a ideia capitaneada pelo prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), de expulsão sumária do deputado. Diz que ele sequer foi julgado pela Justiça e o que o partido iniciará uma caixa às bruxas se começar a expulsar todos que são alvo de alguma acusação. Um conselho de ética está para ser instituído para decidir se é ou não caso de expulsão.

O PSDB tem atualmente oito senadores e o PSD, nove. As duas legendas declaram manter uma posição de independência em relação ao governo Jair Bolsonaro.

Anastasia integra a ala de senadores tucanos que diz ter concordâncias com a pauta econômica do governo Jair Bolsonaro (PSL), mas que rejeita a pauta conservadora no campo dos costumes e outras bandeiras do presidente, como acesso facilitado a armas de fogo, fim dos radares de estradas e posições do presidente relativas ao meio ambiente.

"Hoje tem que ter coragem para dizer que é moderado, porque quem é de centro é atacado pela direita e pela esquerda. E acho que o PSDB e vários outros partidos têm esse perfil e têm que mostrar essa linha de equilíbrio", disse Anastasia, que ganhou projeção nacional quando foi relator do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.

O senador diz manter uma relação excelente com lideranças tucanas, entre elas o presidente nacional do partido, Bruno Araújo, e o governador de São Paulo, João Doria Júnior. E uma relação igualmente excelente com lideranças com o PSD.

No ano passado, quando tentou ser eleito novamente governador de Minas, teve em sua chapa como candidato a vice-governador Marcos Montes (PSD). Seus dois suplentes no Senado são também do PSD. E sobre as eleições municipais de 2020, Anastasia já anunciou que vai apoiar a reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, que migrou recentemente do PHS para o PSD. O prefeito é tido como favorito nas urnas no próximo ano.

Em maio, na convenção do PSDB de Minas, Anastasia defendeu que o partido deveria apoiar Kalil. Mas a direção estadual dos tucanos afirma que lançará candidato próprio.

Na semana passada, ao ser perguntado por jornalistas se Anastasia sairia do partido, o presidente do PSDB em Minas, o deputado federal Paulo Abi-Ackel, pareceu relutante. "Ele não revela, não deixa entender nada em relação a isso", disse o deputado. "Tenho que entender que ele segue conosco."

Kalil, que é amigo pessoal de Anastasia, declarou no início do mês ao Valor que o tucano já foi convidado a integrar o PSD e que espera que ele se una ao partido.

"Meu relacionamento com a bancada do PSD no Senado é muito boa. Não houve convite formal, mas há sempre essas conversas naturais que ocorrem entre parlamentares", disse Anastasia "Por ora, estou trabalhando no PSDB."