Valor Econômico, v. 20, n. 4815, 15/08/2019. Política, p. A12

"Diplomacia e defesa são faces da mesma moeda"

  Renan Truffi
  Marcelo Ribeiro


Às vésperas de ser formalmente indicado para ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) sinalizou ontem que defesa nacional e "armas" serão faces de sua diplomacia, caso ele seja, de fato, confirmado no cargo.

Em seminário na Câmara, Eduardo usou um provérbio para resumir como enxerga a função de embaixador, para a qual ele foi indicado pelo próprio pai, o presidente Jair Bolsonaro: "O próprio Frederico II [antigo rei da Prússia], conhecido como o Grande, disse certa vez: 'Diplomacia sem armas é como música sem instrumentos'".

As declarações foram feitas a uma plateia majoritariamente de militares, em evento sobre os desafios das Forças Armadas. "Diplomacia e defesa são faces da mesma moeda. Instrumentos de exercício da soberania nacional e da garantia da autonomia em nosso relacionamento externo. Não por acaso esta Casa resolveu unir os temas afetos à diplomacia e à defesa em uma única comissão, a qual tenho orgulho de presidir", disse, referindo-se à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional.

O deputado federal traçou um paralelo entre as funções exercidas geralmente por diplomatas e soldados. "Tanto para o diplomata quanto para o soldado o cenário com que se defrontam é imprevisível e instável. As ameaças são difusas e invisíveis", argumentou. A partir desse pensamento, Eduardo justificou ainda que a diplomacia e as Forças Armadas devem caminhar juntas "num projeto de um Brasil acima de tudo e de uma pátria soberana e forte".

Formalizada sua indicação, Eduardo Bolsonaro será sabatinado pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, que encaminhará seu parecer ao plenário da Casa. Ontem, senadores da oposição alertaram para o risco de a sabatina ser fechada. Randolfe Rodrigues (Rede-AP) classificou a possibilidade como "completamente inaceitável".

O presidente reconheceu as dificuldades que a iniciativa enfrenta, com vantagem apertada. "É uma votação secreta, tem que conversar com os senadores", disse, acrescentando que pegaria mal chegar à Assembleia-Geral da ONU em setembro após uma derrota. "Aquele pessoal que é do contra não falta e o pessoal que é favorável costuma faltar, então essa vantagem apertada não nos dá garantia."

Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assegurou que não existe a chance de pautar o projeto que unifica o tratamento dado à vedação do nepotismo na administração federal, neste momento em que a indicação de Bolsonaro é aguardada. Ela foi aprovada pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, mas tem ainda que ser apreciada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

"De forma nenhuma misturar projeto do nepotismo com possível indicação do Eduardo para a embaixada americana. Isso nós não vamos fazer. Não existe projeto que tenha nome, que seja contra alguma pessoa. Então, se o projeto do nepotismo passar [na CCJ], ele não será misturado ou nem acelerado por que o presidente vai encaminhar o nome de um filho à indicação para uma embaixada", disse Maia. "De forma nenhuma aprovar um projeto que limite um direito que hoje o deputado tem. A gente pode concordar ou não com uma indicação, mas a gente não pode usar uma lei ou uma MP contra ninguém", completou.